terça-feira, 14 de agosto de 2012

O mundo é maior que o teu quarto

É, cambada... já foram cinco meses.
Parece que foram 12, parece que foi um.

Quando eu digo que fazer intercâmbio é tipo Lost, acho que só quem fez isso é capaz de entender. Não me entendam mal, ou que isso é esnobe,  ou sei lá... mas é que é um mundo muito particular, quase paralelo, totalmente diferente da realidade. Aqui em Galway, especialmente, o ambiente contribui muito para essa impressão, já que é uma cidade muito viva, com uma mistureba de culturas que é incrível.

Agora é uma época de transição, onde muitos brasileiros tão chegando, muitos tão indo embora. E é muito engraçado quando a gente encontra um recém-chegado, pedindo informações sobre o visto, apartamentos pra alugar, como abrir conta no banco... parece que foi ontem que eu é que tava no outro lado perguntando. Hoje é eu que tô dando as respostas...  me sentindo uma “veterana”.  

E durante esse processo, a gente entende muita coisa sobre si mesmo e sobre as pessoas. Aprender inglês, pra maioria, é uma grande desculpa. Tem gente que se descobriu, veio em busca de autoconhecimento, autoconfiança, abrir os horizontes. Vão voltar pessoas melhores, com novas ideias, novos destinos. Vida nova.

Eu não sou muito adepta de posts pessoais. Nem mudei minha vida ou encontrei Jesus (apesar de terem muitos espanhois que atendem pelo nome). Mas essa nostalgia me levou a pensar em coisas que eu aprendi aqui e que vou levar comigo. Talvez muito do que tá aqui não entra na lista de outras pessoas. São coisas que parecem bobas, óbvias. Mas que durante essa viagem ficaram muito evidentes pra mim porque eu vivi elas.

Então queria dividir um pouco disso com vocês (e também escrever em algum lugar pra não esquecer, caso eu precise de alguma referência futura, em alguma palestra motivacional que eu vá dar no futuro... a gente nunca sabe o dia de amanhã).

Algumas lições bem gerais, porque dar exemplos óbvios e citar nomes podem gerar processos na justiça, desentendimentos e até separações (Marcelle semeando a discórdia desde 1986):

- Primeiríssima lição, mais difícil e que será útil durante toda a tua estada: Desapego!!!!  Material e pessoal. Resume muito dos sentimentos aqui. É um troço difícil, mas tu supera.

- As pessoas são muito diferentes, têm prioridades diferentes e o mais interessante: conceitos diferentes. O que parece óbvio aos olhos de uns é exatamente o oposto aos olhos de outro. (Isso me leva ao item de que gaúchos tem uma língua própria. Ninguém aqui sabe que guisado é carne moída, rancho é a compra do mês, negrinho é brigadeiro e tema é lição de casa...)

- Eu tive uma educação privilegiada em todos os sentidos. Com toda a modéstia, mas, pai e mãe, sério...  vocês arrasaram. 

- Acredite no teu sexto sentido. É incrível como ele não falha e como ele sabe quando as pessoas são boas ou ruins. Mas não deixe que a primeira impressão te impeça de tentar um contato maior. Pode ser que as pessoas sejam apenas... diferentes.

- Tu não precisa tentar se encaixar num lugar/grupo que tu sabe que não pertence. Sempre há outras pessoas que estão na mesma vibe que tu.

- Evite ser radical. Aqui é o momento de entender o diferente, de ser político, de abrir espaço pra novas ideias. Mas há situações que é necessário sim manter uma postura rígida, nada de corpo mole. Caso você chutou o balde e foi radical mesmo, aprenda a lidar com as consequências.

- Convivência é uma questão de sobrevivência. Mas faça o possível pra que seja ótima!

- Se você não sabe cozinhar... vai aprender. Não a cozinhaaaar, mas ao menos a fazer arroz e massa.
(lição atualizada na hora do almoço) 

- Tu vai fazer muitos amigos aqui.  E vai ser ótimo! Troca de experiências, de informação, de tudo! E só não tem companhia para festa se quiser ir sozinho. Mas infelizmente, a maioria dessas pessoas, tu nunca mais vai ver e vai perder o contato. Vai dar um oizinho no facebook de vez em quando, vai visitar enquanto estiver por aqui...  e eras isso. Como na vida “real”, os bons e fieis não preenchem uma mão. 

- Esqueça os convites formais. Se uma pessoa é tua amiga num dia não quer dizer que ela vai te convidar pra todas as festas ou eventos sociais. E não há nada de mal nisso.  (confesso que esse foi o mais f*da pra aprender... e ainda é difícil). Ou seja: simplesmente pegue seu fardo de cerveja e dirija-se à festa mais próxima (mesmo sem saber quem é o anfitrião).

- Tu vai perceber (se já não sabe) que teus pais, namorado (se tiver) e amigos são as pessoas mais importantes do mundo. Mas nenhum deles faz tanta falta (que chega a doer só de pensar) quanto o teu cachorro ou o teu gato (foi mal aí, galera).

- Tu pode viver sem televisão. Já sem internet ou celular...

- Brasileiros são onipresentes (especialmente em festas);

- O mundo é maior que o teu quarto e chuva não é ácida (um salve pra quem tá em Galway e sabe bem do que eu to falando!)

E tem aquele velho clichê mas que encaixa bem nesse caso: viva o teu dia aqui como se fosse o último. Porque, afinal de contas, algum dia ele será. E você vai ter que dar adeus mais uma vez... aqui em Galway, geralmente, o point é na Coach Station.

5 comentários:

  1. Concordo com cada vírgula, ponto, a's, b's, parênteses, exclamações, circunflexos!

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  2. OUHN!!! adorei o item dos bichinhos!!! tu nao tinha me comentado isso ainda!!! adorei! hehehe

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  3. Que legal eu tb morei com uma coreana, um mexicano e um brasileiro quando estive em Toronto... hehehe
    Concordo em número, gênero e grau.. principalmente na parte de brasileiros serem onipresentes..

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  4. perfeito... mais engraçado é "simplesmente levar o fardo de cerveja na festa"... como pode né? de onde venho vc só vai naquela festa, se foi convidado pelo anfitrião, e chegando na festa, todos te olharão de cima até embaixo para te rotular... aqui.... kakakakak.... o rótulo é a FELICIDADE !!! o vida boa !!!

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  5. Amei tudo, e assino embaixo, tu nem faz ideia quanto!

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