domingo, 15 de setembro de 2013

A saudade é um prego e já faz um ano.

The Claddagh - Galway

Eu não tinha a intenção de voltar a escrever aqui. Juro.

Mas essa semana me dei conta de que fez exatamente um ano que eu saí de Galway. Deu aquele aperto que faz doer um troço na barriga - que tu não sabe bem que órgão é. Alguns chamam esse sintoma de saudade. Outros de frescura, ou gases... it's up to you. Sei que isso me fez querer voltar a escrever aqui e cá estou, com um título pra lá de brega. Mas foi o que veio na mente.

O fato é que parei pra fazer um balanço desse ano de volta. E não é nada surpresa dizer que, além de ter passado super rápido, parece que pouca coisa aconteceu, se eu comparar aos seis meses que fiquei fora. Desde então, sinto aquele misto de nostalgia com uma boa dose de frustração pelas coisas não funcionarem aqui como deveriam. Sem contar que aquela sensação de liberdade de ir e vir que eu tinha lá, já não tenho mais.

Não levem a mal. Acreditem, tem muita coisa linda por essas bandas que em outros lugares tu não vai ver... e voltar é ótimo! A sensação de rever as pessoas que tu ama, de abraçar teu cachorro fedido depois de 20 horas de viagem, às 2 horas da manhã, não tem preço. E a semana que segue depois disso também é demais: hora de reencontrar os amigos no bar e contar sobre os pubs e as coisas legais que tu fazia, lia e ouvia, hora de explicar pros parentes que você também estudava - apesar das fotos no Facebook denunciarem o contrário, hora de usar aquelas roupas que tu se culpava de ter não ter levado e também aquelas que nem lembrava mais que tinha...

Mas e depois? Passados os primeiros reencontros, jantas de "bem vinda de volta, a gente te ama", a vida começa a voltar ao normal. Só que a gente fica fora  por um longo período. Pra algumas pessoas é super de boa: no dia seguinte já estão trabalhando, apertando o "play" naquele "pause" que haviam dado assim que saíram do Brasil e bola pra frente, é nóis na fita! 

Já outras pessoas, não tem esse jogo de cintura e demoram um pouco mais pra engrenar. Eu fui uma dessas que chegou e ficou mais perdida que surdo em bingo (não que eu já não fosse meio perdida antes, mas enfim...). Eu adoro aprender coisas novas, e quando se mora fora, isso é algo natural porque o ambiente te obriga a isso. Voltando pra casa, esse aprendizado é algo que tu tem que buscar, já que aqui tu tem o mando de campo e já sabe como muita coisa funciona - algumas, inclusive, tu só liga o automático e pronto. Então é facinho se acomodar.

Eu li há um bom tempo, em algum lugar que eu não vou lembrar agora, que a adaptação em um novo país pode durar seis meses e a readaptação de volta ao país de origem, pode chegar até dois anos. Hoje, depois de um ano, mesmo já tendo de volta minha vida social, estar trabalhando, etc, sinto que falta alguma coisa, que algo não se encaixa. Eu tô buscando, correndo atrás e sei que uma hora eu chego lá!

Pra apaziguar essa minha inquietude, uma coisa muito bacana vem acontecendo. Graças a esse blog, recebo vários e-mails do pessoal que pretende fazer intercâmbio e está cheio de dúvidas. Isso é tri bom, eu adoro ajudar! Talvez eu tenha ficado meio obsessiva em dar pitacos/ajudar/dar informações e dicas quando alguém fala que vai fazer intercâmbio para Irlanda ou Galway. Essa coisa de falar no mesmo assunto soa um pouco meio Howard Wolowitz quando voltou do espaço, eu sei. Mas me faz bem.

Por essas e outras, um post que tinha tudo pra ser o mais deprê da história do blog, ao longo do tempo que fui escrevendo, se tornou uma forma de reunir as respostas pras perguntas mais frequentes que recebo por e-mail. 
Mas mesmo assim, Sras. pessoas-estranhas-que-eu-não-conheço, continuem entrando em contato comigo que, no que for possível, dou as dicas e informações necessárias. Eu fico tri contente em poder ajudar e saber que mais alguém lê o blog além dos familiares (ui ui ui, #tomeachandoPoP).

Segue aí um apanhado geral das dúvidas mais comuns que recebo:

A pergunta que não quer calar: Dublin ou Galway? A pergunta que faço pra quem me pergunta isso é: em que tipo de lugar tu teria vontade de morar? Agitado, com opções, ruas, ônibus, táxis, grandes lojas, diversidade a milhão... uma cidade grande engarrafada num espaço físico três vezes menor que Porto Alegre, mas com muito charme? Dublin é o lugar. Se tu já curte algo mais interioriano, mais universitário, onde tem apenas uma rua principal e tudo gira ao redor da praça central, Galway é ideal.
Eu sou suspeita em falar, porque Galway foi a única decisão na minha vida que eu tomei rapidamente e com uma certeza que nunca tive antes. It's all about chemistry and you know it. 
Então a dica é: pesquise bem e veja qual lugar tu se identifica mais... há outras opções como Cork ou Belfast, na Irlanda do Norte, que também são show, viu? (+ info nesse post)

Galway tem menos brasileiros que em Dublin? Assim ó, pessoal: brasileiro tem em tudo que é lugar. É pior que praga na lavoura! Galway tem população menor, logo, terá menos brasileiros. Proporcionalmente não deve ser muito diferente de Dublin. 
Pra quem vai estudar inglês: os brasileiros geralmente estão concentrados nos níveis básicos e intermediários, então se você está nessa faixa, será quase inevitável ter conterrâneos como colegas, além de árabes e sul coreanos.
Mas não se iluda: estudar inglês depende muito mais de ti do que dos outros. No início fui super azeite com brasileiros - não queria muito fazer amizade e bibibi. (A minha cútis europeia bem que ajudou nos primeiros dias) Mas depois vi como eu tava sendo chata e que é possível conciliar. Não adianta culpar os outros por uma preguiça que é tua. Uma dica óbvia? Se sair com brasileiros, leve sempre um estrangeiro junto.

Quais opções de escolas em Galway? Até o ano passado, haviam duas escolas mais famosas: a GCI -Galway Cultural Institute e a Atlantic Language School. Da GCI não posso falar muito, mas aparentemente tem uma estrutura bem parecida com a Atlantic, é um pouco mais afastada do centro (fica em Salthill), uns 15, 20 minutos de caminhada. A Atlantic é mega central, tem uma baita estrutura e uma equipe super querida e competente. Sobre os professores: é frequente a troca de professor, já que há uma grande rotatividade de alunos, então tive a oportunidade de conhecer professores muito bons e outros nem tanto. Num geral, fiquei super satisfeita e recomendo. Há uma outra escola bem menor, a Galway Language Centre. Não conheço alguém que tenha estudado por lá, mas fica num lugar super fofo.

Qual é a mais cara? Até onde sei, os valores entre as duas escolas não diferenciam muito - as duas inclusive disponibilizam a tabela de preços no site. Mas são mais caras que em Dublin. Lei da oferta e procura: menos concorrência, menos gente, maior o valor. Mas fiquem atentos e tentem conversar com pessoas que já estudaram nas escolas. 

E emprego? A crise tá feia mesmo? Não trabalhei por lá, mas tive muitos amigos que sim.  Não é dificil trabalhar segurando placas, lavando pratos ou banheiros. A média de grana nas placas é de uns 5 euros a hora, trabalhando das 11 às 17h, algumas um pouco mais tempo*. Trabalhar em pubs ou em cafés é um pouco mais complicado, porque exige um conhecimento legal de inglês. Mas não é impossível. A tendência é ter  mais vagas no verão, já que a cidade recebe bastante turistas e tem vários festivais. Inclusive, é possível ser voluntário nesses eventos. Eu fui duas vezes. Um deles, em especial, foi mega legal porque deu pra praticar inglês sobre um assunto que eu curto e com quem é nativo, além de ter visto vários filmes de graça :) 
*(valeu pelas info, Murilo!)

E o aluguel?? Por ser uma cidade universitária tem bastante estudante dividindo apê. E muitos trabalhadores também. Pra encontrar um quarto não é muito difícil (o daft.ie ou a própria escola são as melhores opções). Os valores pra aluguel de um quarto individual bacana ficam em torno de 250 a 300 euros por mês. Custo de vida também vai depender muito do estilo de vida da pessoa. Eu consegui viver super tranquilamente com uns 500 euros por mês, incluindo aluguel, contas, compras do mês, etc. Só que eu não sou um bom parâmetro, já que sou mão-de-vaca nível expert. Tive colegas que gastavam bem mais. Vai de cada um.

E o transporte? em Galway, tudo é meio pertinho. Mas se tu mora longe, a bicicleta é uma boa opção, já que o último ônibus passa às 23h30. Mas cuidado: bicicletas + pints não combinam, ok? #ficaadica
Caminhar é uma opção tranquila também, se morar nas proximidades da Eyre square.

E é isso. Lembrando que tudo que escrevo aqui é baseado na minha experiência de ter vivido em Galway entre março e setembro de 2012. Outras pessoas podem ter opiniões diferentes e zaz (mas duvido que elas sejam tão legais como eu de dividir isso num blog :P)

Ficou com mais alguma dúvida? Por enquanto sigo por aqui, sempre respondendo no celli.monteiro@gmail.com.
Mas ó, já aviso: depois que a gente é picado pelo bichinho da trip... a vontade é gastar todo o dinheiro que se ganha conhecendo esse mundão sem porteira.
Quem sabe essa vontade toda não gere uma nova aventura e um novo blog? Nunca se sabe...