quarta-feira, 30 de maio de 2012

Eurotripando por aí (5) - Paris

Vista da Pont Alexandre III, aquela da Adele :D

De Bruxelas para a Cidade Luz

Quis resolver dar uma de phyna, sair de Bruxelas e ir pra Paris. Como? De busão, óbvio. Trem, ao contrário do que muitos pensam, é bem mais caro. E pra quem acha que só no Visatão de Caxias tem baphão, é porque nunca pegou um Eurolines em fim de feriado. Pra vocês sacarem um pouquinho do trajeto (de quatro longas horas): a senhora gigante atrás de mim – que não parou de se mexer e não calou a boca e sem tecla SAP – resolveu tentar botar o filhinho querido pra dormir. Eu não manjo nada de francês, mas deu pra entender que ela queria colocar uma música no celular. E que música seria essa? “Ai se eu te pego”, óóóóóbvio. Seguido de algum outro funk pancadão, claro. A criança vai dormir que nem um anjo.

E foi nessa vibe que cheguei em Paris. Primeiro desafio: o metrô. Achei que eu já tivesse craque depois de Bruxelas... de fato, eu tava. Mas né... compre tickets em uma língua que tu não conhece pra ver o que acontece... Fui na base do tentativa e erro e do “Excusez-moi, je ne parle pas français”.  Como eu vim de Bruxelas, já deu pra se acostumar um pouco com a língua. Só que agora, nem sinal do inglês.  Mesmo sendo cidade turística, a grande maioria das informações são todas em francês. Te vira, nega.

Onde ficar?

Depois de mil baldeações do metrô, cheguei ao destino. A linha de metrô é imensa e te leva pra basicamente todos os lugares de Paris, mas é facinho de achar. Fiquei no Hostel Caulaincourt. Lá encontrei a Gabi, minha colega na Atlantic. Ela é argentina, mas é legal. Baita parceria mesmo! Enfim... o lugar é bem bacana, tem todo um ar meio “cabaré”. Acho que são os papeis de parede bordô com florais que dão essa impressão... E tenho que dar os parabéns no quesito breakfest... eles têm o melhor café da manhã EVER dos hostels que eu passei. Croassaint, baguete, suco... tinha até Choco Crispis (aqueles sucrilhos de chocolate do elefantinho, sabem?) Uma hora inteira dedicada ao café da manhã. O hostel fica no coração de Montmartre, conhecido como o bairro dos artistas e que é muito bacana. Meio longe do centrão, mas como eu disse, dá pra ir de metrô por tudo ou a pé, se tu tiver tempo.

O que fazer em Paris? Fala muito sério...

Antes de qualquer coisa, só queria dizer que Paris era de longe um dos últimos lugares que eu escolheria pra visitar. Todo aquele glamour, aquela pompa, aquela frescura e bibibi nunca me atraíram. Mas como era no caminho, a passagem tava razoavelmente acessível e menores de 25 anos não pagam pra entrar nos museus... tinha que aproveitar. E também porque eu sabia que se eu não fosse pra Paris, ia ouvir a minha prima Grasi me xingando até não poder mais!

De cara, Paris me impressionou. Tudo é grandioso, majestoso. Nada é pouca coisa, tudo precisa ser mega e muitas vezes chega a ser caricato. Desde a parte mais histórica, com detalhes em ouro, até as ruas boêmias com traços em art noveau. Quando tu tá visitando e acha que já viu tudo no lugar, é porque tu é um imbecil que não olhou pro lado, porque provavelmente tem mais alguma coisa que tu não percebeu. Sério.

Montmartre e seus artistas. 
Dar dicas de onde ir é pretensioso demais pra quem passou dois dias e meio. Mas posso dizer que deu pra conhecer muita coisa. Impossível citar tudo aqui... Montmartre com seus artistas que pintam e desenham os milhares de rostos que passam por ali diariamente; pertinho dali tem a igreja de Sacre Coeur, com uma vista fantástica da cidade; o Arco do Triunfo, que pra mim foi muito mais bonito do que eu imaginava. Ahhh... fica a dica: você não precisa atravessar as DOZE pistas pra chegar até o arco... Tem uma passagem subterrânea. E não acredite nas pessoas que dizem que você pode atravessar. Você pode, mas o risco de ser atropelado é bem significativo... 
Até então, bacana, nada de super demais em Paris.

Vista de Sacre Couer

Eu e Gabi abalando no Arco do Triunfo, depois de quase atropeladas.

Tour pode ser legal

Eu tenho pavor de tour. Coisa de turista. Mas tem um lance na Europa e que em Paris valeu muito a pena fazer. O Free Walking Tour da Sandemans tem uma ideia muito interessante: todos os dias, os guias vão a um ponto de encontro e de lá, levam os turistas pra conhecer os principais pontos da cidade em uma caminhada que dura de 3 a 4 horas. Ao final, tu escolhe quanto tu quer pagar pro guia. No nosso caso, o guia era sensacional. Não lembro o nome dele, mas ele é de Los Angeles e morava em Paris há alguns anos com a esposa, que é de lá. O passeio foi super descontraído, com dicas valiosas, dados históricos (sem ser boring) e serve pra ter um panorama geral da cidade para, aí sim, decidir os lugares que tu quer conhecer mais a fundo. Valeu super a pena. Depois disso, me dei conta de que eu tava no palco central de muitos eventos históricos importantíssimos (dã). Paris começou a se tornar mais interessante.

Turistas: ô raça desgraçada

Detesto turista (sim, eu sou turista também).  E em Paris eu entendi o porquê dos franceses terem a fama de ser grosseiros: porque turista também é. Turista em Paris em geral é mal-educado, espalhafatoso e acha que falando inglês mais alto os franceses vão compreender. E o francês não precisa ser educado porque sabe que todo mundo vai à Paris, não precisam promover a cidade. Alguns amigos aqui em Galway comentaram de terem passado por péssimas experiências por lá. Eu já posso dizer ao contrário: todos franceses foram muito gentis comigo PORÉM, veja bem, porém nunca me responderam em inglês. Quando eu perguntava alguma informação, eu sempre começava pedindo desculpas por não falar francês e pedia se a pessoa podia me ajudar. 99% das pessoas eram extremamente gentis, mas 98% te respondia em francês. Eu aprendi francês na marra em dois dias.

Um ponto que eu me estressei muito com o lance de turistas foi no Palácio de Versailles. (Só um adendo: Gente, o lugar é uns 40 minutos de Paris, vale muito a pena. O trem também é baratinho, 7 euricos ida e volta. O lugar é lindo, com milhões de aposentos e jardins eternos que não acabam nunca mais. E claro, muito ouro.) Foi lá que quase fui atropelada pela terceira idade oriental e suas câmeras digitais. Os véio não sabiam nem do que tavam batendo foto, mas empurravam Deus e todo mundo pra clicar, sem ao menos um enquadramento. Um horror. Mas ok... paciência...

Versailles infestada de turistas. 

Coisas bacanas de ser intercambista

Eu já falei aqui que uma das coisas mais legais de morar fora é conhecer gente do mundo todo. A Stéphanie é francesa e foi minha colega na Atlantic. Combinamos por e-mail de nos encontrarmos para um jantar. Ela nos levou em um típico bistrô, com direito a vinho francês e sobremesa. É muito legal quando a gente visita os lugares e as pessoas mostram orgulhosas as coisas legais que a cidade tem. E a Stéphanie fez isso muito bem! Espero um dia poder retribuir a essas pessoas.

Gabi, eu e Stéphanie destruindo um filé.

Pra fechar a noite... Torre Eiffel, símbolo master de Paris. Ela é de fato bacana, mas durante o dia ela não é tudo aquilo. Inclusive, me decepcionei ao ver ela à tarde. O negócio é que ela te conquista à noite, com aquele show de luzes que, falando, ninguém acredita no quão lindo é. Nem eu acreditava até ver com meus próprios olhos. Até então eu tinha achado Paris legal, mas depois da Torre Eiffel à noite... aquela cidade quase me conquistou. Quase, porque eu sou moça difícil, né?

E não é que é bonito mesmo??

O paraíso dos museus

Em Paris tu respira história. Tudo, tudo, tudo tem uma história por trás, mesmo que restaurada, reformulada ou maquiada. A gente sabe disso, mas não se dá conta até estar lá. E pra deixar isso mais evidente, nada melhor do que museu. E lá tem museu pra tudo. Deu dó de entrar em tão poucos. Consegui ir no Petit Palais, no Musée de L’Armée, onde tem a tumba de Napoleão, cheguei tarde pro Museu D’Orsay, pro Grand Palais e pro Museu de Fotografia.  Lembrando: menores de 25 anos, aproveitem! Museu é tudo “de grátis” pra nós!!

E foi então que eu finalmente me rendi aos encantos de Paris graças ao Museu do Louvre. Monalisa, Vênus de Milo, Leonardo da Vinci, antiguidades egípcias... É imensurável. Eu passaria dias lá. Em determinado momento, meu cérebro deu nó, pane total, sobrecarga de informação... já não sabia mais nem meu nome. O que eu precisava era só de um cantinho e uma comidinha qualquer pra me preparar pra deixar essa cidade que me surpreendeu e me conquistou. Paris, você venceu. 

Da série: jumping around the world com cara de retardada, no Louvre.

Ps: pra não dizer que viajei por aí e não encontrei ninguém famoso: vi o Celso Portioli em Notre Dame ¬¬. Eu preferia ter encontrado outra pessoa, mas né...

domingo, 27 de maio de 2012

Eurotripando por aí (4) - Bruxelas

Grand Place

“Bruxelas?... Hm.. é ok. Não tem muito o que fazer.”

Isso é o que me falavam quando perguntava ou quando eu lia em blogs. Minha opinião: Bullshit. Bruxelas tem o quê fazer sim. Prova disso é o tamanho desse post, que tá gigante. Pra achar algo interessante, basta saber procurar. E se você tiver uma ajudinha, melhor ainda. No meu caso tive duas grandes. A primeira delas eu encontrei assim que cheguei no hostel em Bruxelas.

Brussels is ugly and we love it.

Essa foi a primeira frase do guia que recebi no hostel. O projeto do Use it Europe é criar mapas para jovens viajantes, saindo daquela bolha turística e dando opções pra entrar em contato com a cultura local. São feitos pelos próprios moradores e tentam ajudar a responder questões básicas do tipo “só tenho tempo pra um museu, qual deles devo ir?” ou o clássico “onde faço coisas legais e baratas (ou de graça)?” De forma bem engraçada, eles mostram, além dos pontos turísticos clássicos, algumas coisas bem escondidas que praticamente só quem mora lá sabe que existe. Há outras cidades que possuem esses guias, como Cork, Porto, Praga e até Bruges. Eles são distribuídos gratuitamente apenas em hostels, onde atingem o público alvo e evitam que o lugar se torne mega conhecido pros turistas malas.

Minha outra ajuda veio de Liége. Pra ser mais exata, de São Carlos, em São Paulo. Há uns 10, 12 anos, quando o ICQ ainda era top de linha, eu participava de um grupo de discussão sobre o seriado Friends. Eram mais de 50 pessoas de todas as partes do Brasil. Com algumas delas criei mais afinidade, troquei cartas, telefonemas e sigo em relativo contato até hoje. Uma delas era a Laurinha, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em Bruxelas depois de mais de 10 anos de amizade virtual. Pode parecer estranho, mas ao nos encontrarmos, parecíamos amigas de infância... o que de certa forma somos, mas de uma maneira um tanto peculiar. A Laurinha está terminando o mestrado em Liége e gentilmente topou me encontrar em Bruxelas. Se nada mais der certo na vida dela (o que eu super duvido), tá aprovada pra ser guia local.

Merci, Laurinha! :)

Onde ficar?

Por falta de opções e seguindo indicações do meu amigo Chemello, fiquei 3 noites no 2go4 Hostel. A localização é bem interessante: pertinho da Estação Gare Du Nord (ótimo pra quem vem de Eurolines, que foi meu caso) e também pertinho da Grand Place, onde tudo acontece. Notem que meu “pertinho” não é do lado, ok? Eu gosto de caminhar. 

Fiquei num quarto misto, com 14 pessoas. Super organizadinho, banheiro coletivo super limpinho, não tem do que reclamar da organização. Mas pelo que eu tava pagando, era o mínimo. Achei o preço salgado, já que não tinha café da manhã e todos os outros hostels estavam lotados: € 26. Mas eles têm um espaço bacana pra cozinhar, acessar a internet e confraternizar com outros backpackers.
 
Metrô – o bicho de sete cabeças

Estação Heysel do Atomium. Uma gracinha, já diria a Hebe.

Aqui na “zoropa” eu to sendo colona master, fazendo coisas que nunca tinha feito na vida. Coisas simples como, por exemplo, mandar um postcard e andar de metrô. Sim, eu só tinha andado de Trensurb até hoje, e daí? Então tá... já que é pra andar de metrô, vamos começar pelo difícil e comprar tickets em outra língua. O que, na verdade, não é difícil. Bruxelas facilita a vida de todo mundo que fala inglês, disponibilizando quase todos seus serviços em três línguas: flamengo, francês e inglês. Assim, não foi tão complicado pra pegar meu primeiro metrô. Não me perdi e de quebra ainda treinei pro metrô na França (esse sim, todo em francês...)

Ma onde tu foi, dio cristo?

Vamos começar pelos pontos turísticos básicos. Primeiro deles: o Atomium. Fica bem afastado do centro – 20 minutos de metrô. O troço é tipo uma Torre Eiffel de Bruxelas e representa um átomo (jura?). Foi construído em 1958 para a World Exhibition, quando se acreditava que a energia nuclear salvaria o mundo. Dá pra entrar e visitar, mas pra isso precisa pagar € 11. Do lado tem a Mini Europa. Não fui... porque né, tem o mini-mundo em Gramado... 

Atomium dominando a paisagem

O Grand Place é onde tudo acontece. A praça é toda linda, com construções que parecem aqueles castelos de areia úmida que a gente faz na praia (mas bonitos, óbvio). Infelizmente não deu pra ver todos porque além de ter muitos prédios em reformas, tinha o palco do Festival de Jazz, que tapava toda a fachada do museu. O City Museum conta a história da cidade e também é responsável pelo guarda-roupa do Manneken Pis.

Pedacinho da Grand Place

Manneken Pis é um dos símbolos do país. “É só isso mesmo?” Sim, o menino que mija é realmente uma estatuazinha ridiculamente minúscula, mas um montão de gente fica em torno pra fazer uma foto. O legal é que em alguns dias ele tá vestido com alguma temática diferente e tem desde roupas típicas de países até o jumpsuit (macacão, segundo a Gabe) do Elvis. No dia que eu fui não tinha roupinha nenhuma :( . Ele também tem uma irmãzinha, a Jeanneke, que foi criada por um restaurante pra atrair mais visitantes, só que o restaurante fechou então a coitadinha não mija mais e tá trancafiada num beco.
Ilusão de ótica: Manneken mijando na mulher
A Jeanneken com a maior cara de quem tá com problema urinário.
A Jeanneke pode não tá fazendo xixi, mas em compensação quem passa pelo pub que fica em frente à estátua deve ir muito ao banheiro. Principalmente depois de beber algumas das mais de 2000 cervejas que a Delirium tem. Esse pub já entrou no Guiness Book pelo maior número de tipos de cerveja. Hoje eles já perderam a conta. O lugar é tri bonito, mas é apinhado de gente (turista) - ou seja - bem complicado de achar uma mesinha amiga.
 
Cerveja, aliás, é o que não falta na Bélgica. Provei lá a chamada Kriek, que é uma cerveja feita com um tipo de cereja. Pra mim, mais parecia um experimento de Halls cereja numa Bohemia. Mas gostei do resultado. Também fui no Café Leffe e provei o chopp deles. A Leffe é uma cerveja que eu já gostava muito no Brasil. Mas tomar em uma mesinha do bar da Leffe, num fim de tarde, com ótima companhia e petisquinhos com formatinhos felizes, não tem preço.

Dando uma de phyna (ou seria Ray Charles?) No Cafe Laffe
Na minha listinha de experimentar coisas típicas, inclusive, faltou alguma cerveja Gueuze e alguma das Trapistas.. mas eu já tinha tomado Chimay no Brasil, então ok. Ah, aqui na Bélgica é impossível sair sem provar um Waffle ou as batatas fritas em cone. Façam uma favor pra vocês mesmos e provem as batatas com molho andaluz!

Chega de gordice, vamos pras artes
Pros amantes da arte e cultura, Bruxelas é prato cheio. Primeiro que eu entrei na loja da Taschen. Quase morri. Sabe aqueles livros carésimos que tu vê na Saraiva, com fotos maravilhosas? Pode apostar, é Taschen, que é uma editora que só publica coisas sobre arte, fotografia, moda e cinema.

Teve um museu que eu queria conhecer, mas acabei não indo que é o Museu dos Instrumentos Musicais.  O prédio por si só é uma graça: todo em estilo Art Noveau, tem a maior coleção de instrumentos do mundo. E a vista daquela região é muito bonita. Falando em Art Noveau, tem uma área na região leste em que todos os prédios têm suas fachadas nesse estilo. Um mais fofo que o outro, principalmente próximo a Ambiorix Square.

Museu dos Instrumentos Musicais
Praças e parques também são ponto forte na cidade. São enormes, lindos e num sábado de sol ficam lotados. Entre eles, indico o Leopold Park – que era um zoológico até 1876, quando todos os animais morreram; Parc Du Cinquantenaire, que é gigante e no dia em que passei por lá tava rolando uma maratona. Outro clássico é o Royal Park, onde também está o Palácio Real.

Parc Du Cinquantenaire cheio de maratonistas

Outro lugar pra visitar, que eu não fui por falta de tempo, mas também por medinho de ser caça-níquel é o museu das histórias em quadrinhos. O que me faz lembrar que a Bélgica é também berço de um dos personagens favoritos da minha pré-adolescência, o TinTin e seu fiel escudeiro Milu. Próximo ao Manneken Pis, tem uma loja temática dele que é de cair o os butiá do bolso (e também os euros, porque tudo lá é mega caro). Mas dá vontade de levar tudo. 

Tintin e Milu :D
Voltando às artes, o Royal Museum of Fine Arts me fez entender finalmente aquelas cenas que a gente vê em filmes, das pessoas sentadas em frente às telas, observando. Sempre achei isso coisa de pseudo-cult que acha que entende alguma coisa de arte. Mas depois de me deparar com uma obra do Gustave Wappers, eu vi que podia ficar ali por muito tempo, admirando todos os detalhes (e isso soou muito pseudo-cult).
Royal Museum bem lindão

O quadro: Episode of the September Days 1830 (on the Grand Place of Brussels)

Por último, mas importante, visitamos um lugar que eu fiquei apaixonada, a Cinematek. Eles têm um baita arquivo sobre a história do cinema mundial, além de um espaço/museu contando e demonstrando a evolução do cinema, com direito à cinematógrafo e tudo. Sério, parece imbecil, mas é emocionante ver de verdade as coisas que eu tanto mencionei na minha monografia. Aquele lugar seria o sonho de realização físico do meu trabalho final de curso e naquele momento cheguei a sentir saudades de tudo.. vontadezinha de estudar tudo de novo... Ok, passou a vontade.

Se não bastasse todo o acervo, por meros 3 euros tu assiste a uma sessão de cinema à moda antiga, para poucas pessoas, em cadeiras mega confortáveis, algum clássico do cinema mudo, ao som de... um piano ao vivo. Sim!!! Durante pouco mais de uma hora, a pianista faz toda a trilha sonora na escuridão, sem usar nenhuma partitura, seguindo o ritmo do filme. O filme que assisti era The Son of the Sheik, de 1926 com o Rudolph Valentino e fazia parte do ciclo “Latin Lovers” (uuui). Demais, demais, demais.

Às 10 da noite ainda deu tempo de apreciarmos o pôr do sol, fechando com chave de ouro a passagem por Bruxelas. Mas gente, tem muito mais! Não falei do Parlamento Europeu, do Palais de Justice e de tantas outras coisas pra ver. Sabe, não sei se é porque ouvi tanta gente falando mal de Bruxelas que acabei criando esse desafio, de tentar fazer ela o mais interessante possível. Mas pelo menos pra mim, funcionou. E espero que esse post (apesar de gigante) funcione pra vocês também.
  

sábado, 26 de maio de 2012

Eurotripando por aí (3) - Bruges

 

Seguindo de busão para Bruxelas, tive uma grande decepção musical ouvindo a rádio local. Eu sempre soube que muito do que é produzido no Brasil é cópia... mas descobrir que o original de Vou de Táxi (que pra mim, sempre foi da Angélica) é em francês e interpretado pela Vanessa Paradis (Sra. Johnny Depp) foi muito pra mim. Uma parte da minha infância desmoronou ali. Mas ok... eu supero.

 

Anyway.... dormi em Bruxelas, mas o sábado era dedicado à cidade de Bruges, que fica uma hora de trem ao norte e é capital da região de Flandres, onde falam flamengo e francês. E aqui, mais uma dica pra quem sai de Bruxelas: o bilhete ida e volta pra Bruges custa € 27. Mas se você tem menos de 26 anos pode comprar online o ticket Go Pass 1, que é nominal -  também ida e volta -  e sai por 13 euricos. E na hora de comprar, não se preocupe com qual estação de Bruxelas você vai sair ou parar, porque o trem passa por todas as três (dica de ouro da Laurinha).

Sol, casinhas, barquinhos :)
Bruges, a chamada Veneza do Norte e nomeada capital cultural europeia em 2002, é um encanto só. A cidade é toda linda, com canais, carruagens, todas as casas antigas, torres e catedrais... é uma Gramado belga, eu diria (talvez melhorada...). Mas confesso pra vocês que não foi tudo aquilo pra mim. E sei os motivos: sábado + sol + feriadão em alguns países = MUITO turista. Sim, eu sei, a cidade é turística, eu sou turista, mas depois dessas viagens que eu fiz, eu criei uma raiva dessa raça e que vou explicar melhor no post sobre Paris. 

De qualquer forma, Bruges é pequena e linda. Tem em torno de 20 mil habitantes, ou seja: mais turista que habitante. Na verdade, acho que quem mora lá se esconde nos fins de semana. Muita gente ouviu falar na cidade por causa do filme do Colin Farrell In Bruges, que eu confesso, não assisti. Mas ouvi dizer que o pessoal odeia quando comentam ou acham que a cidade foi construída por causa do filme. E não pensem que ela é toda medievalzinha assim por acaso ou apenas pelos extremos cuidados com a história da cidade: em 1870 Bruges tava meio mal das pernas e resolveu investir em turismo e na modinha medieval que tinha na época. Contratou um arquiteto chamado Louis Delascenserie que deu uma cara nova-velha, reformando o que era antigo e criando novas coisas com uma carinha gótica. Então muito do que se vê não é tão velho quanto parece ser. Mesmo assim, seu centro histórico é considerado patrimônio histórico da UNESCO.

Enfim, como qualquer cidade turística, tudo é motivo pra ganhar dinheiro. Então a maioria das coisas é paga, mesmo que seja barato. Lembrando que na Bélgica muitas das atrações têm desconto para menores de 26 anos.  

Se tem que pagar mesmo... onde ir?

Turista na frente da Belfry de Bruges
Um dos lugares que sugiro é o Belfry de Bruges, onde se tem uma vista de 360° da cidade (atrapalhada pela cerquinha de futebol pra nenhum maluco se atirar de lá). Pra isso, é preciso subir uma escadaria caracol de 366 degraus. Ao longo do trajeto, se conhece um pouco da história e da importância que o campanário teve pra cidade. A torre já não está tão reta quanto deveria, já curvou 1 metro e meio para um dos lados. Se continuar, teremos uma nova Pisa na Europa. € 8 para o público ou € 4 para menores de 26.

Markt apinhado de turistas
A Belfry fica no Markt, uma grande praça cheia de prédios históricos, bares, restaurantes e chocolaterias, óbvio. Não sei se vocês sabem, mas há uma rivalidade entre suíços e belgas pra ver quem tem o melhor chocolate. Para tirar essa dúvida, resolvi provar um dos chocolates de Bruges, que é considerada uma das capitais do chocolate, mesmo com todas as recomendações de guias dizendo que chocolate belga bom se compra no mercado por um preço acessível. Os de chocolaterias são caros, destinados pra turistas ou parentes doentes. Mas, já que eu tava no inferno... fui até uma lojinha beeeem longe do centrinho, a Spegelare. Só pelo cheiro, dá vontade de comer tudo. Melhor aroma de todos os tempos (ponto para os belgas). Na hora da escolha, eu costumo considerar sempre custo benefício (bom e barato). Segundo a proprietária da loja, há alguns anos a prefeitura quer pavimentar as ruas de Bruges. Os moradores querem manter as pedrinhas, pra manter o aspecto antigo. Como forma de “protesto”, essa senhora criou os chocolates com marshmellows, representando as ruas com pedrinhas. Gostei da história (e do preço), resolvi levar. Posso dizer que é muito bom. Mas chocolate caseiro de Gramado dá de 10 (bairrismo mode: on)

Vitrines tentadoras
Saindo da guloseima e indo pra bebedeira, um passeio muito bacana é o feito na cervejaria De Haalve Maan. Negócio de família, o lugar é o único do segmento ainda em funcionamento em Bruges. Durante o tour, se conhece todo o processo de fabricação da cerveja, os tipos e graduações alcoólicas e no final, claro, aquela taça bem gelada. E o bacana é que a cerveja que tu prova só pode ser tomada ali no local porque ela não é filtrada, já que é tirada na hora e não precisa ser engarrafada, conservada e bla bla bla. Tem tours em inglês, francês e dutch. Preço único de € 6,50. 

Morram de sede, meros mortais
Ali conheci duas colombianas muito legais: a Andrea, que estuda na Espanha e a Natalia, que estuda em Bruxelas. As duas foram minhas companheiras de viagem até o fim da noite, quando fomos em um festival de jazz em Bruxelas. E aí reforço a teoria de que ninguém faz amigos bebendo leite... em compensação cerveja...

Eu, Natalia e Andrea super se divertindo em Bruges
Outros lugares que passei, mas não entrei: Church of Our Lady, onde há uma das únicas esculturas de Michelângelo fora da Itália; Beguinage, um lugarzinho calmo, com várias casinhas onde algumas freiras (chamadas beguines) viviam; A Holy Blood Chapel, onde alguns acreditam estar guardado um pouco do sangue de Jesus, encontrado em uma cruzada do século 12 (ah vá); Passeios de barco, porque né... sendo Veneza do Norte, certo que tem esses barquinhos; O Sint-Janshospitaal, ou Museu do Hospital, que dá um panorama de como um hospital funcionava há uns 300 anos atrás.

Vista lá da Belfry. Cidade gatinha, né não?
Enfim... a cidade é cheia de capelas, museus, restaurantes, lojinhas e atrações locais bem escondidas dos turistas. Em um dia não dá pra explorar tudo, óbvio. Mas dá pra se divertir bastante e se encantar com a beleza do lugar.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Eurotripando por aí (2) - Amsterdam



Para o intercambista na Europa é muito fácil viajar para outros países. Em menos de uma hora, com uma passagem de avião de 15 euros, tu já tá em um país completamente diferente, com uma língua estranha. Sendo assim... eis que resolvi fazer meu primeiro mochilão. E já digo de antemão que foi uma das coisas mais legais que eu já fiz em toda a minha vida. O roteiro escolhido: Amsterdam, Bruxelas, Brugges e Paris, durante uma semana. Ou seja: eu sabia que ia ter que correr muito!

E aqui já apresento um dos poucos problemas de estudar em Galway. Sempre que se quer viajar pro exterior, tem que contar a grana do busão. Aqui tem aeroporto, mas é pra voos nacionais. Os voos internacionais, por companhias como Ryanair e Aer Lingus, saem de Cork, Kerry, Shannon, Knock Ireland West e Dublin. Para o aeroporto de Dublin, o bus da Citylink ida e volta é 24 euros para estudante (sim, tu vai pagar quase o mesmo preço da passagem de avião).


Oooutra dica: voos pra Holanda pela Ryanair não vão direto pra Amsterdam, só pra Eindhoven. Então antes de sair à la loca comprando passagem, lembrem-se novamente do busão ou trem de Eindhoven até Amsterdam. Às vezes vale mais a pena pagar um voo direto pela Aer Lingus (como eu fiz :D). E isso vale pra outros países, como a França (como eu não fiz :().

Em Amsterdam contei com a parceria do Du, que depois de sete meses em Galway, tá voltando pra casa. Os “mãos-de-vaca” oficiais de Galway finalmente tiraram o escorpião do bolso e resolveram passear.

Bora pra Amsterdam!

Moinhos, tulipas, putas e drogas. Pode admitir, é isso que tu pensa quando alguém fala em Amsterdam. Mas posso te dar toda a certeza de que, sim, tem tudo isso, mas é só uma visão limitada de turista. Na verdade, não posso dar certeza de que existem tulipas, porque eu pessoalmente não vi. Uma das minhas maiores decepções foi descobrir que o famoso passeio das flores tinha acabado três dias antes de chegarmos. Uma perda lastimável pra lente da minha querida Canon.

Mas ok, chegamos na cidade em um atípico calor de quase 30 graus. Bicicletas, trem, Tram, carros, pessoas, tudo misturado. É um negócio caótico mesmo. Mas com o andar da carruagem (ou do Tram) tu te acostuma... ou morre atropelado por algum ciclista, como eu quase fui... três vezes. E as bicicletas são sem dúvida uma das coisas que mais chamam atenção. Todas as ruas têm ciclovia e as bicis são usadas por pessoas de todas as idades, com todos os trajes possíveis. Não interessa se tu tá de terno e gravata, vai de bike pro trabalho. Salto? Pff... vi moça de salto 15 sob duas rodas, dirigindo no maior estilo (e sem barbeiragem).

Vózinha abalando na bike
Terno, bike, 30 graus.
Pra quem quiser, dá pra alugar uma bike por uns 10 euros por dia. Como eu sou uma péssima ciclista (e o Du também compartilha do mesmo problema), fizemos tudo a pé. As casinhas também são marca registrada da cidade. Todas parecidinhas, uma coladinha no lado da outra. Muitas são realmente tortas e imagino a agonia master de viver em um desses lugares. Mas não deixam de ser fofas.

Hostel

Ficamos no Hostel Sarphati. A localização é muito boa, bem em frente ao parque de mesmo nome. O hostel é beeeeem simples. Tem café da manhã que é o básico café-pão-geleia. O quarto misto de 10 pessoas é um pouco fuleiro, assim como banheiro. Mas nada que a gente não fosse sobreviver por três dias.

O que fazer em Amsterdam?

Vale lembrar que são dicas de quem ficou dois dias e meio, então é tudo sem pretensão de dizer os melhoooores lugares, mas sim os que eu achei bacana e que deu tempo de visitar. Aposto que tem muito mais coisa legal pra fazer, mas né... vida de turista é isso mesmo.

Antes de mais nada, é legal passar em um dos centros de informações a turistas espalhados por todo o centro. Lá tem tours diversos, passeios de barco...  e não só por Amsterdam, mas por cidades do interior. E tem algumas promoções, caso tu compre dois passeios juntos. Mas, como eu sou rebelde e independente, fiz meus passeios por conta própria.

O primeiro deles foi o museu da Anne Frank, que por pertencer a uma Fundação, não tá incluso nas promoções dos quiosques. O museu é o próprio esconderijo onde a jovem alemã e a família passaram dois anos, sem ver a luz do dia, e que ficou conhecido graças ao seu diário, publicado pelo pai e único sobrevivente Otto Frank, após o fim da Segunda Guerra.  Frank também é o responsável pela criação desse museu que recebeu no ano passado mais de um milhão de visitantes.

Eu e a Anne Frank (cara séria mode: on)
Durante a visita - que é quase toda em inglês – é possível ver toda a estrutura da fábrica que havia no local, o esconderijo, artigos e objetos preservados, conhecer sobre aqueles que fizeram parte dessa história. No fim do passeio tem um espaço interativo pra discussões polêmicas atuais. O preço único é de 9 euros. Vale a pena? Pra quem gosta de história, eu acho que vale.

Já se a tua praia é outra, aconselho muito a visita ao museu da Heineken. Eu achei demais. Super interativo, tu conhece todo o processo da fabricação, a história da família, além de experimentar a cerveja, óbvio. Dá pra fazer fotos, vídeos, brincar de DJ, ver propagandas antigas... E mais ainda: ganha um passeio de barco pelos canais, até uma das lojas da marca. Ou seja: já dá pra economizar aí o que você iria gastar com um tour pelos canais. A entrada é 17 euros (preço único) e dá direito a um brinde e dois copos de cerveja (mas é possível ganhar mais cerveja que isso, acredite).

Antiga fábrica da Heineken
Pros boêmios que quiserem esticar, Amsterdam tem muitos barzinhos e inclusive, praças que concentram alguns deles. Exemplos são a Rembrandtplein e a Leidseplein. Tem também a Dam Square, que é palco de diversos eventos e um dos pontos históricos da cidade (sendo assim, lotada de turistas). Bem pertinho da Central Station, ela concentra muitas atrações como o Museu da Madame Tussaud, o Royal Palace e a New Church.

Dam Square
Amsterdam também tem muitos parques e praças que, mesmo numa quarta-feira à tarde, lotam de gente quando se tem um solzinho agradável. A galera vai pra fazer piquenique, ler, jogar conversa fora... E são muitas opções: Sarphatipark (que eu comentei antes), Vondelpark (um dos maiores e mais famosos), Oosterpark (que eu achei um clima muito bacana), Museumplein (que é onde tu encontra o clássico Iamsterdam), entre outros. Recomendo muito dar uma descansada nas pernas em um desses lugares.

Galera lagarteando no Vondelpark
Piazada se divertindo com o patinho no Oostenpark
Falando no Museumplein, ali se concentra, como o próprio nome sugere, alguns museus, como o Stedjik Museu (Museu de Arte Moderna). Infelizmente, por falta de tempo (ou grana), deixamos de ir em atrações como essa, o Museu do Van Gogh, o Rijskmuseum, Museu Casa Rembrandt, entre outros. Também tem o passeio do Ajax, time local (que todos gremistas lembram muito bem, creio eu). Como o Du não é muito chegado em futebol, optamos por deixar de lado.

Museumplein e o clássico Iamsterdam
Ah, claro, não poderia esquecer de um dos points mais famosos: Red Light District. O local onde as moçoilas ficam nas vitrinas, exibindo seus atributos, iluminadas por uma difusa luz vermelha. E tem de tudo que é tipo: bonita, feia, baixinha, alta, gostosa, peluda, gorda, magra... bi-zar-ro O lugar é sempre cheio de turistas, desde os mais comuns até a excursão da terceira idade – homens e mulheres. Também ali tem teatro pornô com sexo ao vivo. Eu fiquei impressionada, porque nesses lugares iam muitos casais, famílias... não dá pra ignorar também os milhares de sex shops, que têm todas as bizarrices possíveis e inimagináveis. Era muito engraçado, porque a publicidade em alguns lugares era tão bem feita, que os cartazes pareciam ser de perfumes muito chiques, quando na verdade eram de vibradores. 

Red Light District

Uma das mil sex shops - ali no cantinho dá pra ver que eles super aceitam Master e Visa
Na terra da maconha liberada, os chamados “coffee shops” bombam. E a variedade de coisas que tem ali pra galera fumar um baseado é inacreditável. Tem apetrechos de todos os jeitos e com todos os temas possíveis. E as lojas de souvenirs super investem no lance de vender a imagem da maconha como produto símbolo da cidade. Tem em camisetas, canetas, esqueiros e por aí vai.

Para os fãs de feirinhas (vide minha sogrinha), Amsterdam tem dois lugares muitos bacanas pra isso. O Albert Cuyp Market, pertinho do Sarphatipark, tem tendinhas que vendem de tudo: desde botões até peixes exóticos. Outra pedida é no Waterlooplein Market, que tem várias banquinhas com pinturas fantásticas nas fachadas, mas que só dá pra ver quando estão fechadas. E ali é um mercadão de pulgas: souvenirs, máquinas fotográficas antigas e até máscaras de gás (!?) são vendidos pelos mais diversos preços.
Bizarrices da Waterlooplein Market, como máscaras de gás
Em Amsterdam eu formulei uma teoria: Na antiguidade, os Deuses nórdicos, altos e atléticos fizeram um pacto com todas as mulheres que se assemelhassem à figura de Helena de Troia: nossos descendentes irão morar em Amsterdam nos idos dos anos 2000. Sério gente, eu nunca me senti tão feia em toda a minha vida. Como tem gente gata naquele lugar!!! As mulheres pareciam ter saído direto de catálogos da Vogue ou da Victoria’s Secret e os homens seriam perfeitos modelos pra Hugo Boss. Ou se não eram bonitos, ao menos estilosos no escaldante calor que fez durante os dois dias e meio que passei por lá. Pena que não consegui tirar fotos dos top.

Ñ dá pra ver direito, mas dá pra ver q ele tinha potencial, não?
As meninas também!
Saí de lá com uma impressão muito bacana da cidade. É super “morável”, as pessoas têm o inglês super compreensível, além de muito educadas (e bonitas). Impressões de uma turista de 2 dias e meio.

Dali, cada um seguiu seu caminho: O Du rumou aos EUA (onde deve estar agora curtindo Miami Beach) e eu, segui de busão para a terra da waffle, do chocolate e da cerveja: Bélgica, que fica pro próximo post.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Host Family

Despedida do Min da casa da Mary: vinhos e chocolates :D

Algumas pessoas que pensam em fazer intercâmbio me perguntam: vale a pena ir para uma Host Family? Bom, isso depende e muito. Como tudo na vida, morar por um tempo na casa de um completo desconhecido tem pontos positivos e negativos. O principal para fazer essa relação dar certo é estar muito disposto ao novo. Afinal de contas, tu é o intruso. Então, mesmo que, sim, você esteja pagando por estar ali, tem que ter noção de que você está na casa de outra pessoa. Então o mínimo que se deve é respeito às regras ali estabelecidas.

Geralmente, a própria escola faz a seleção da família, conforme um formulário com perguntas bem básicas. Você pode cair numa família com 4 crianças e 2 cachorros, como pode viver com uma pessoa só. Os preços são bem salgados então é comum comprar o pacote por 2 ou 3 semanas, até que você possa encontrar um novo lugar pra ficar.

Aqui, muitos amigos não se adaptaram às suas famílias, por mil razões. A mais frequente é em relação ao cardápio e aos horários da janta. Aqui na Irlanda é comum que as famílias jantem às 6 da tarde. Sim, os latinos (em especial os espanhois) piram com isso, já que são acostumados a jantar por volta das 10. Outra reclamação frequente é que a janta – que deve ser fornecida pela família, como o café da manhã  -  ou são aquelas refeições prontas congeladas ou se come batata com batata. Às vezes acontece também de cair numa família com problemas. Alguns colegas ficaram em famílias que o casal estava se separando, o que deixava um climão pesado. Inclusive, um dos meus colegas se incomodou porque ficou com um casal jovem (prestes a se separar) e o “pai” - que tinha praticamente a idade dele - tinha ciúmes dele com a “mãe”, jovem, bonita e prestes a chutar a bunda do marido. Resumindo: é uma questão de saber lidar com o novo... mas também contar com um pouquinho de sorte.

Eu posso dizer que fui premiada. Além de ter outro estudante na mesma casa  - o que facilita muito na hora que a gente chega e tá super perdido – minha host mother é um amor. A Mary é uma senhora aposentada de 60 e poucos anos. Só nesse quesito já fechou todas: uma senhora, assim como eu. Ela mora sozinha.. quer dizer... tem mais 4 gatos no jardim. Conhece muito de história e já viajou o mundo inteiro. Quando eu tava lá, tinha uma sensação de “férias na casa de vó”. Nos sábados, passávamos a manhã toda papeando sobre tudo e à noite, sempre assistíamos às péssimas soap operas da RTE (essas novelas merecem um post uma hora dessas, de tão mal feitas). 

Já conversei com a Mary diversas vezes depois de ter saído da casa, nos encontramos para o clássico chá com leite e biscoitos e hoje visitei ela. Precisava pegar umas correspondências e de quebra, ela me emprestou muitos mapas e guias para o meu primeiro mochilão – que começa amanhã. Além disso, preocupada se eu tava me alimentando bem, preparou uma sacolinha com frutas e bolos pra eu levar na viagem  (pelo jeito ainda não pareço tão gordinha quanto eu achava que tava, yes!).

Optar por uma host family é difícil porque você acaba não tendo controle total dos seus horários, não se sente confortável - pois não é sua casa - e às vezes tem um péssimo cozinheiro (o que, felizmente não foi meu caso) e ainda acontece de a família não ser tão receptiva e não conversar tanto contigo. O que é meio imbecil, visto que esse é o objetivo de ficar nesses lugares: vivenciar um pouco da cultura e costumes locais e praticar o inglês.

Mas também é muito 10, porque se você pegar uma família bacana, pode praticar o inglês, ficar informado sobre as coisas da cidade e do país, comer comida típica e viver um pouquinho da rotina do lugar. Pra mim valeu muito, porque além de tudo isso, ganhei uma grande amiga, que serve de porto-seguro nessa terrinha desconhecida, mas que eu já adotei como lar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Conhecendo a "Irlanda" (3) + Eurotrip (1) - Belfast



Uma das cidades marcadinhas na minha lista de “lugares pra conhecer quando eu estiver na Irlanda” era Belfast. O lugar tem uma história recente marcada por conflitos políticos e sociais. Eu queria sentir como era o clima em um lugar que passou por situações de risco, ataques à bomba, ameaças do IRA... Sim, eu sei, bizarro... coisas que pessoas normais não se interessam. Mas minha mãe sempre me disse que eu era estranha...

Enfim, como eu já escrevi no blog, a Irlanda do Norte pertence ao Reino Unido. Ou seja: eu visitei outro país e usei libras ao invés de euros :) Não há ônibus direto de Galway para Belfast. É preciso ir até outra cidade - Dublin geralmente é a primeira opção – e de lá, partir para o norte. Ou então pegar o trem (que é bem mais caro e leva quase o mesmo tempo). São mais ou menos 5 horas e meia de viagem. Como eu ia passar só um dia, aproveitei pra viajar durante a madrugada. Valeu muito a pena ver o nascer o sol naquela paisagem do interiorzão.
 
Quando eu pensava em Belfast, eu imaginava aquele clima meio pesadão, com muros altos e pintados, arame farpado, rastro de protestos... coisas que a gente vê em filmes (vide Em Nome do Pai, Michael Collins, etc, etc). Ao chegar no centro da cidade, vi algo bem diferente. Mistura do moderno com o antigo, lojas enormes em meio a prédios históricos, calçadão e shoppings cheio de gente comprando, Tesco, Debenhans, 2Euro Shop... uma típica cidade grande europeia, com seus tradicionais pontos turísticos.

Mesmo assim, dá pra encontrar coisas assim...
O Belfast City Hall fica no coração do centro da cidade. As janelas têm diversos mosaicos e o interior é bem luxuoso. Não deu pra visitar nada além do hall porque justamente naquele dia o lugar estava sendo usado para as inscrições de uma maratona. Perto do centro, eles também tem a torre com o relógio, o Albert Memorial Clock Tower, uma torre torta que é um dos símbolos da cidade. Não tem nada de especial, é só uma mistura de Pisa com Big Ben ¬¬.

Belfast City Hall
Albert Memorial Clock

Há outros pontos bacanas pra se visitar nos arredores, como o Grand Opera House, a Biblioteca e as ruazinhas cheias de pubs e lojas exóticas. Queria ter visitado o Crown Liquor Saloon, que é um dos pubs do patrimônio histórico, mas não deu tempo. É bem na frente da estação rodoviária, bem fácil de achar.

Waterworks e o tiozinho pescando e devolvendo o peixe

Saindo do centro, ao norte, tem o Waterworks, um parque que foi construído na década de 1840 e abastecia a cidade com água (dã). Há alguns anos ele foi revitalizado e é bem bacana pra dar uma caminhada. Os bairros ao redor são umas gracinhas, ainda mais num ensolarado sábado de manhã. Se andarmos nos arredores, dá pra ver que a cidade tem ainda aquele ar meio industrial, com conjuntos intermináveis de casas de tijolo à vista, que se diferenciam apenas pelas cores das portas.

Vizinhança simpática :)

Quer ver tudo isso de uma só vez? Subir a colina de Cave Hill é a melhor opção. Dá pra ver toda Belfast de lá. O lugar ainda é caminho pro Belfast Castle, um castelo que tem um jardim dedicado aos gatinhos. Segundo eles, um gatinho branco morava ali e o lugar foi feito em homenagem à ele. Mas o castelo é tipo o Chateau La Cave, de Caxias. Bonito e tal, utilizado pra festas de casamentos e bibibis, sem uma super importância histórica e só é visitado por excursões de alemães da terceira idade.

Vista de Cave Hill

Eu e a galera da terceira idade causando no Belfast Castle

Jardim dos Mimis
A cidade tem muita, mas MUITA igreja. De tudo que é tipo, época ou estilo. Pra quem não sabe, Belfast foi palco de conflitos entre cristãos e protestantes desde o século XII, mas a coisa ficou feia mesmo a partir de 1916, quando o processo de independência da Irlanda começou. Pra representar essa divisão em Belfast, foi construído um muro que separa o lado cristão – que tem como rua principal a Falls Road – do lado protestante, com a Shankill Road. Os portões eram vigiados pela polícia inglesa, que controlava quem passava (ou não). Hoje, a maioria deles ficam abertos, mas não se vê muitas pessoas, além de turistas, táxis e os black taxis  atravessando.

Mural Walls


Conversando com um motorista, ele nos contou um pouquinho sobre a situação atual, enquanto nos levava para essa parte da cidade, no oeste. Segundo ele - com aquele sotaque irish bem carregado - os dois lados estão em relativa paz, mas apenas se toleram. De vez em quando, rola uns atritos ou discussões, ou se jogam coisas de um lado para o outro no muro, como forma de provocação. Mas agora o clima é meio “ok, temos que ser civilizados por obrigação, mesmo eu te odiando”. As pinturas podem ser vistas não apenas no muro, mas em casas e outras paredes.  São murais repletos de críticas políticas, econômicas, sociais e ambientais. 

É aí que entra o famoso IRA (Exército Republicano Irlandês). O grupo católico e reintregalista buscava unificar a Irlanda por meio da luta armada e igualdade religiosa. Durante anos, os ataques terroristas foram respondidos da mesma forma pelo protestantes da Força Voluntária do Ulster. Atualmente, o IRA abandonou a luta armada e atua na política através do partido Sinn Féin.

Como era feriado de May Day – porque irish gosta mais de feriado do que brasileiro – havia parada na rua, com bandinhas e protestos das mais diversas naturezas... desde gente reclamando da recessão até o sindicato dos companheiros jornalistas reclamando por qualquer coisa... eu acho. 

Botanic Avenue

Ok, vamos pro sul, pela graciosa Botanic Avenue, cheia de árvores, cafeterias e fast-foods coreanos e chineses. Foi lá também que achei uma lojinha retrô muito bacana. Se eu tivesse mais estilo, dinheiro, ou então se as boinas que eu gostei tivessem servido na minha cabeçona, eu teria saído de lá com muitas sacolas. No fim da mesma rua, o Belfast Botanical Garden. Parece uma miniatura de Curitiba, lugar bem gracioso, cheio de plantas e super útil pra fotos de casamento. Pra voltar ao centro, a dica ir ao longo do Rio Lagan, onde dá pra ver também os famosos Sansão e Golias, umas gruas gigantes que ficam no porto (grande coisa :P)

Lojinha retrô
Não, não é Curitiba...

Muitos devem ter perguntado, ok e o Titanic? Sim, sim, a história do maior naufrágio da história (ou ao menos o mais famoso) também tá presente por todos os lados. Além de memoriais dedicados ao navio, recentemente foi aberto o Titanic Belfast, uma construção contemporânea, que traz uma exposição permanente e que parece ser bem bacana. Mas como os ingressos estão esgotados ára todos os fins de semana de maio, não teve jeito de entrar. Só deu pra visitar o prédio e a lojinha de souvenirs, que não tinha nada demais.

Foto de turista no Titanic Belfast

 O bacana dessas poucas viagens pela Irlanda (República e do Norte) é perceber o quanto se investe em turismo. Pra achar os pontos é tudo muito fácil, até mesmo pra quem não fala inglês. As pessoas são extremamente simpáticas, prestativas e muito bem informadas sobre a localização e orientação. Aqui eles usam e abusam de tudo que possa render história, (até mesmo quando não tem uma super importância). Fica a dica prum país que em breve vai receber uma olimpíada e que provavelmente não tenha se dado conta da importância das pequenas (grandes) coisas. 
Falando em olimpíadas...monumento que tem por lá.

Du, Hyunju e Kayla, super parcerias o/