domingo, 15 de setembro de 2013

A saudade é um prego e já faz um ano.

The Claddagh - Galway

Eu não tinha a intenção de voltar a escrever aqui. Juro.

Mas essa semana me dei conta de que fez exatamente um ano que eu saí de Galway. Deu aquele aperto que faz doer um troço na barriga - que tu não sabe bem que órgão é. Alguns chamam esse sintoma de saudade. Outros de frescura, ou gases... it's up to you. Sei que isso me fez querer voltar a escrever aqui e cá estou, com um título pra lá de brega. Mas foi o que veio na mente.

O fato é que parei pra fazer um balanço desse ano de volta. E não é nada surpresa dizer que, além de ter passado super rápido, parece que pouca coisa aconteceu, se eu comparar aos seis meses que fiquei fora. Desde então, sinto aquele misto de nostalgia com uma boa dose de frustração pelas coisas não funcionarem aqui como deveriam. Sem contar que aquela sensação de liberdade de ir e vir que eu tinha lá, já não tenho mais.

Não levem a mal. Acreditem, tem muita coisa linda por essas bandas que em outros lugares tu não vai ver... e voltar é ótimo! A sensação de rever as pessoas que tu ama, de abraçar teu cachorro fedido depois de 20 horas de viagem, às 2 horas da manhã, não tem preço. E a semana que segue depois disso também é demais: hora de reencontrar os amigos no bar e contar sobre os pubs e as coisas legais que tu fazia, lia e ouvia, hora de explicar pros parentes que você também estudava - apesar das fotos no Facebook denunciarem o contrário, hora de usar aquelas roupas que tu se culpava de ter não ter levado e também aquelas que nem lembrava mais que tinha...

Mas e depois? Passados os primeiros reencontros, jantas de "bem vinda de volta, a gente te ama", a vida começa a voltar ao normal. Só que a gente fica fora  por um longo período. Pra algumas pessoas é super de boa: no dia seguinte já estão trabalhando, apertando o "play" naquele "pause" que haviam dado assim que saíram do Brasil e bola pra frente, é nóis na fita! 

Já outras pessoas, não tem esse jogo de cintura e demoram um pouco mais pra engrenar. Eu fui uma dessas que chegou e ficou mais perdida que surdo em bingo (não que eu já não fosse meio perdida antes, mas enfim...). Eu adoro aprender coisas novas, e quando se mora fora, isso é algo natural porque o ambiente te obriga a isso. Voltando pra casa, esse aprendizado é algo que tu tem que buscar, já que aqui tu tem o mando de campo e já sabe como muita coisa funciona - algumas, inclusive, tu só liga o automático e pronto. Então é facinho se acomodar.

Eu li há um bom tempo, em algum lugar que eu não vou lembrar agora, que a adaptação em um novo país pode durar seis meses e a readaptação de volta ao país de origem, pode chegar até dois anos. Hoje, depois de um ano, mesmo já tendo de volta minha vida social, estar trabalhando, etc, sinto que falta alguma coisa, que algo não se encaixa. Eu tô buscando, correndo atrás e sei que uma hora eu chego lá!

Pra apaziguar essa minha inquietude, uma coisa muito bacana vem acontecendo. Graças a esse blog, recebo vários e-mails do pessoal que pretende fazer intercâmbio e está cheio de dúvidas. Isso é tri bom, eu adoro ajudar! Talvez eu tenha ficado meio obsessiva em dar pitacos/ajudar/dar informações e dicas quando alguém fala que vai fazer intercâmbio para Irlanda ou Galway. Essa coisa de falar no mesmo assunto soa um pouco meio Howard Wolowitz quando voltou do espaço, eu sei. Mas me faz bem.

Por essas e outras, um post que tinha tudo pra ser o mais deprê da história do blog, ao longo do tempo que fui escrevendo, se tornou uma forma de reunir as respostas pras perguntas mais frequentes que recebo por e-mail. 
Mas mesmo assim, Sras. pessoas-estranhas-que-eu-não-conheço, continuem entrando em contato comigo que, no que for possível, dou as dicas e informações necessárias. Eu fico tri contente em poder ajudar e saber que mais alguém lê o blog além dos familiares (ui ui ui, #tomeachandoPoP).

Segue aí um apanhado geral das dúvidas mais comuns que recebo:

A pergunta que não quer calar: Dublin ou Galway? A pergunta que faço pra quem me pergunta isso é: em que tipo de lugar tu teria vontade de morar? Agitado, com opções, ruas, ônibus, táxis, grandes lojas, diversidade a milhão... uma cidade grande engarrafada num espaço físico três vezes menor que Porto Alegre, mas com muito charme? Dublin é o lugar. Se tu já curte algo mais interioriano, mais universitário, onde tem apenas uma rua principal e tudo gira ao redor da praça central, Galway é ideal.
Eu sou suspeita em falar, porque Galway foi a única decisão na minha vida que eu tomei rapidamente e com uma certeza que nunca tive antes. It's all about chemistry and you know it. 
Então a dica é: pesquise bem e veja qual lugar tu se identifica mais... há outras opções como Cork ou Belfast, na Irlanda do Norte, que também são show, viu? (+ info nesse post)

Galway tem menos brasileiros que em Dublin? Assim ó, pessoal: brasileiro tem em tudo que é lugar. É pior que praga na lavoura! Galway tem população menor, logo, terá menos brasileiros. Proporcionalmente não deve ser muito diferente de Dublin. 
Pra quem vai estudar inglês: os brasileiros geralmente estão concentrados nos níveis básicos e intermediários, então se você está nessa faixa, será quase inevitável ter conterrâneos como colegas, além de árabes e sul coreanos.
Mas não se iluda: estudar inglês depende muito mais de ti do que dos outros. No início fui super azeite com brasileiros - não queria muito fazer amizade e bibibi. (A minha cútis europeia bem que ajudou nos primeiros dias) Mas depois vi como eu tava sendo chata e que é possível conciliar. Não adianta culpar os outros por uma preguiça que é tua. Uma dica óbvia? Se sair com brasileiros, leve sempre um estrangeiro junto.

Quais opções de escolas em Galway? Até o ano passado, haviam duas escolas mais famosas: a GCI -Galway Cultural Institute e a Atlantic Language School. Da GCI não posso falar muito, mas aparentemente tem uma estrutura bem parecida com a Atlantic, é um pouco mais afastada do centro (fica em Salthill), uns 15, 20 minutos de caminhada. A Atlantic é mega central, tem uma baita estrutura e uma equipe super querida e competente. Sobre os professores: é frequente a troca de professor, já que há uma grande rotatividade de alunos, então tive a oportunidade de conhecer professores muito bons e outros nem tanto. Num geral, fiquei super satisfeita e recomendo. Há uma outra escola bem menor, a Galway Language Centre. Não conheço alguém que tenha estudado por lá, mas fica num lugar super fofo.

Qual é a mais cara? Até onde sei, os valores entre as duas escolas não diferenciam muito - as duas inclusive disponibilizam a tabela de preços no site. Mas são mais caras que em Dublin. Lei da oferta e procura: menos concorrência, menos gente, maior o valor. Mas fiquem atentos e tentem conversar com pessoas que já estudaram nas escolas. 

E emprego? A crise tá feia mesmo? Não trabalhei por lá, mas tive muitos amigos que sim.  Não é dificil trabalhar segurando placas, lavando pratos ou banheiros. A média de grana nas placas é de uns 5 euros a hora, trabalhando das 11 às 17h, algumas um pouco mais tempo*. Trabalhar em pubs ou em cafés é um pouco mais complicado, porque exige um conhecimento legal de inglês. Mas não é impossível. A tendência é ter  mais vagas no verão, já que a cidade recebe bastante turistas e tem vários festivais. Inclusive, é possível ser voluntário nesses eventos. Eu fui duas vezes. Um deles, em especial, foi mega legal porque deu pra praticar inglês sobre um assunto que eu curto e com quem é nativo, além de ter visto vários filmes de graça :) 
*(valeu pelas info, Murilo!)

E o aluguel?? Por ser uma cidade universitária tem bastante estudante dividindo apê. E muitos trabalhadores também. Pra encontrar um quarto não é muito difícil (o daft.ie ou a própria escola são as melhores opções). Os valores pra aluguel de um quarto individual bacana ficam em torno de 250 a 300 euros por mês. Custo de vida também vai depender muito do estilo de vida da pessoa. Eu consegui viver super tranquilamente com uns 500 euros por mês, incluindo aluguel, contas, compras do mês, etc. Só que eu não sou um bom parâmetro, já que sou mão-de-vaca nível expert. Tive colegas que gastavam bem mais. Vai de cada um.

E o transporte? em Galway, tudo é meio pertinho. Mas se tu mora longe, a bicicleta é uma boa opção, já que o último ônibus passa às 23h30. Mas cuidado: bicicletas + pints não combinam, ok? #ficaadica
Caminhar é uma opção tranquila também, se morar nas proximidades da Eyre square.

E é isso. Lembrando que tudo que escrevo aqui é baseado na minha experiência de ter vivido em Galway entre março e setembro de 2012. Outras pessoas podem ter opiniões diferentes e zaz (mas duvido que elas sejam tão legais como eu de dividir isso num blog :P)

Ficou com mais alguma dúvida? Por enquanto sigo por aqui, sempre respondendo no celli.monteiro@gmail.com.
Mas ó, já aviso: depois que a gente é picado pelo bichinho da trip... a vontade é gastar todo o dinheiro que se ganha conhecendo esse mundão sem porteira.
Quem sabe essa vontade toda não gere uma nova aventura e um novo blog? Nunca se sabe...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

It’s time to say goodbye


- É difícil.
- É… mas quando tu chegou, tu sabia que ia ser assim.
- Eu sei... mas não deixa de ser difícil.
- Ninguém disse que ia ser fácil. Mas pensa nos momentos bons que a gente teve... os passeios pela Shop Street... as noites nos pubs... as tardes de domingo lendo um livro no Spanish Arch... lembra disso?
 Lembro, lembro, tudo foi demais.
- E os pub nights com o pessoal da escola? Os passeios? As festas? Os festivais?
- Hahaha sim... sempre me diverti muito.
- Então? Porque essa tristeza agora? Você e eu sabíamos que ia ser um amor de verão.
- Eu sei...
- Eu até tinha esperança que você ficasse mais...
- Mas tu sabe que eu tenho que voltar!
- ... Eu sei! E é o melhor a fazer no momento. Tu sabe disso e eu também.
- Isso é um adeus?
- Adeus? Não sei... prefiro um "até logo". Tu sabe que eu sempre estarei aqui pra ti.
Talvez eu volte um dia. Nem que seja só pra tomar um chá – porque o café daqui é muito ruim. Ou uma pint mesmo... why not?
- Exatamente, por que não?  Estarei aqui, sempre te esperando.
- Eu sei. Obrigada, Galway.
(Fim do diálogo piegas)

No início do ano eu criei esse blog com o intuito de contar um pouco da minha experiência, mas quis focar em coisas que podem ser úteis pra outras pessoas. Já que há tantos blogs sobre Dublin porque não um sobre Galway? Espero ter cumprido um pedacinho dessa missão e torço para que outras pessoas façam o mesmo.

Eu adoro Galway. De verdade.  E aposto que quem eu conheci aqui compartilha dessa ideia. Claro que pra mim também é ótimo e lindo porque eu tô aqui de passagem,  dando uma de phyna e só estudando. Porque pros moradores há váááárias coisinhas que precisam ser repensadas sim – vide questão do trânsito, lixo...  Mas de qualquer forma, isso não tira o brilho da cidade. Todo mundo ama esse lugar. E quando eu digo todo mundo, incluo os próprios irlandeses.

Galway tem tantas particularidades que é quase impossível resumir. Mas, guess what? Challenge accepted! Vou tentar fazer um apanhado de tudo aquilo que me chamou a atenção durante esses meses aqui.  E se algum dos amigos “brasileiros-galwegianos” que lerem o blog lembrarem de mais alguma coisa, peço pra contribuir, escrevendo nos comentários ou me mandando pelo facebook. O interessante é que esse trabalho de destacar essas peculiaridades fica mais difícil com o tempo, porque a gente se acostuma com o diferente, se adapta e sobrevive (um salve pro Charles Darwin). 

So... it’s time for...

GALWAY FACTS (atualizado em setembro/2012)

Casas:
- Não se assuste com as janelas à primeira vista. Elas abrem sim de uma maneira diferente, com três opções: maçaneta pra baixo = janela fechada; maçaneta no meio= puxe para a janela abrir completamente; maçaneta pra cima = puxe para a janela abrir parcialmente, com apenas uma fresta em cima. (Achei que um manual assim fez falta, pois evitaria muitos momentos embaraçosos de brigas explícitas com janelas alheias).
- (atualizado) Como bem lembrado pela Tati Perrone, não só as maçanetas, mas as fechaduras também tem uma artimanha especial para funcionar. A minha, por exemplo, era toda ao contrário. Então, não desista na primeira tentativa!
- Que atire a primeira pedra quem nunca colocou uma panela pra ferver no fogão e ele não esquentava ou começou um banho gelado. Tudo isso porque esqueceu de ligar o interruptor de luz, que habilita qualquer coisa por aqui.
- Existem diversos conjuntos habitacionais, com dezenas de casas iguais... umas fofuras! Mas isso deve ser um problema pra quem chega bêbado em casa e não lembra direito qual é a sua porta, chegando ao ponto de incomodar vizinhos (baseado em fatos reais).
- As campainhas são iluminadinhas J (a minha não... acho que tá quebrada)
- Meninas, o papel higiênico vai pelo vaso MESMO. Demorei tempos pra me acostumar, mas muitos lugares não tem cestinho de lixo. Alguns têm, mas é destinado para absorventes e tal. Portanto não se acanhem, é assim mesmo.
- Paredes feitas de papel. É disso que são feitas as casas aqui. Só pode. (Sim, deve ser algum material que eu não sei o nome, mas vocês entenderam a ideia....) Com essas paredes é possível saber os gostos musicais do teu vizinho sem nem precisar olhar pra cara dele, a rotina do teus flatmates – sem precisar olhar pra cara deles e saber se a máquina de lavar no andar de baixo já terminou de lavar tuas roupas, sem precisar ir até lá verificar.
- Em um geral, irish flatmates não são bem vistos pela comunidade estrangeira. Normalmente, eles não tão nem aí com a limpeza da casa, especialmente da cozinha e do banheiro, além de deixar tudo espalhado pelos cômodos . Ou seja: amigos neuróticos com limpeza, tenham cuidado na hora de escolher onde morar.

Dia-a-dia, compras e comportamento:
- Meninas, welcome to paradise! Penney’s e Dunnes Store são a salvação para aquelas que querem fazer a festa com roupas, acessórios e make up por menos de 15 euros. 
- Quem não é viciado em supermercado corre o perigo de ficar. Tesco 24horas, Dunnes, Lidl, Aldi e Supervalue são os maiores mercados e sempre tem ofertas. Sério, as “Special offers” do Tesco e os “reduce to clear” do Dunnes foram a minha salvação aqui, com produtos a menos de 50 centavos.
- (atualizado) Falando em Mercado, esqueci de mencionar duas grandes particularidades. Uma delas apontada pelo Julio Lopes, fala que o trolley (carrinho de compras) do Tesco está sempre preso em frente ao mercado e pra liberar é necessário uma moedinha de 1 euro. E sim, você pode ter esse eurico de volta na hora de devolver, não precisa ficar segurando tudo na mão com medo de desembolsar grana toda vez que precisar usar o carrinho. Isso deve existir em cidades aqui no Brasil, mas particularmente, nunca tinha visto por aqui. Outra coisa que me chamou a atenção, também no Tesco, é que eles tem serviço self-service pra pagar. Sim, os caixas rápidos é tu mesmo que passa os produtos no leitor e paga direto pra maquininha, sem nenhum controle de ninguém. Já imaginou se isso ia funcionar no Brasil?
- Outra dica amiga: leve sua própria sacolinha pro mercado. De pano, de plástico, não interessa, mas tenha contigo. Aqui eles cobram se você quiser levar alguma de plástico pra casa e não é aqueles plásticos vagabundos não. Eu só comprei uma, e olha.... me durou os seis meses tranquilo. (mão-de-vaca mode:on) Não sei porque diabos não se faz isso no Brasil. Só questão de costume. 
- Ter sol é um evento tão raro que faz até mesmo sair da toca os tipos mais esquisitos. Passe um dia de sol em Salthill pra entender o que eu to falando. O conceito de bizarro se renova.
- Sinnead, Eimear, Declan, Aeoifa, Ailbhe são nomes comuns, tipo João, Maria e José pra gente.
- Ninguém tem vergonha de sair com roupas ridículas ou cabelos estranhos. Misturar elementos de estações diferentes também pode ser fashion. Em Galway.
- Aqui chove praticamente todo dia, fato. Então é certo que você vai quebrar pelo menos um guarda-chuva. Ou dois. Até entender que a única opção sensata é ter uma capa de chuva. Porque o clima da Irlanda faz com que a chuva venha de todos os lados (suspeita-se que até mesmo do chão). Mas também traz boas surpresas, como arco-íris mais de uma vez por dia.
- A Shop Street sempre – SEMPRE – terá músicos tocando. Não interessa o tempo, a hora ou o tipo de música. Sempre haverá alguém tocando na rua, seja um bom ou mau músico. Muitos são esquisitíssimos, by the way.


Noite e Pubs
- Chuva e frio não são desculpa pra ficar em casa. E mais: sair pra beber não será exclusividade dos fins de semana.
- Não se assuste com as meninas à noite. Não, elas não garotas de programa (mesmo com suas saias curtíssissísssíssíííííssimas). Elas também não são zumbis (mesmo com a maquiagem carregada borrada e o andar trôpego e cambaleante num salto 15). E não, elas também não têm doença de pele (elas só não aceitam o fato de serem brancas e usam cremes bronzeadores laranjas de forma um pouco desproporcional, especialmente no rosto).
- Galway é a capital nacional das Hen Parties, as chamadas despedidas de solteira. As meninas vêm em bando pra cá, alugam um apartamento ou uma van e ficam a noite inteira andando de pub em pub fazendo fiasco e bebendo muito. Fantasias de Madonna, pênis de borracha ou de balão, avós e tias fazendo parte disso tudo estão incluídos no pacote. 
- Sim, bêbados são comuns e isso inclui mulheres também. Não é todo mundo que é assim... há exceções, claro! Mas pra quem quer "capotar o fusca", o lance é não comer nada e ficar bêbado logo. Essa é a graça por aqui.
- Meninas voltando às 3 da manhã pra casa, sozinhas e sem perigo algum. A gente vê por aqui.
- Bateu a fome na madrugada? Não se preocupe, o Supermacs tá sempre aberto pra você! Ah, achou muito caro? Não tem problema! No “chinês” você come por 3 euricos um delicioso arroz com frango ao curry (ao lado do The Kelly’s). Com fome e com menos grana ainda? No McDonalds dá pra descolar o famoso pão-carne-queijo por 1 euro.  (Dica amiga pros amigos homeless sem pudor: alguns irish chegam tão bêbados que pedem o lanche no Mc, mas só comem o hamburger e deixam as batatas intocadas dando sopa).
- Sempre haverá música boa num pub. Em alguns, os músicos não são contratados... estão só ali na mesa, bebendo uma pint, quando de repente alguém sugere tocar uma música e aí a coisa acontece.
- Você vai decorar uma série de músicas, porque todos os pubs tem um repertório que não muda desde os anos 80 – eu particularmente agradeço e adoro, podem me chamar de antiquada.
- Dentre as músicas que tu vai decorar: Whiskey in the Jar, Dirty Old Town, No Nay never e, claro, Galway Girl.
- Copos de pubs não são souvenirs. Quem se importa? Eu já tenho 3.

Galera... um beijão pra quem fica e boa sorte pra quem vai! Eu ainda sigo irlandeando por aí. Tenho mais um longo caminho pela frente antes de voltar pro Brasil (mochilão Europa, parte II - phyna e bem acompanhada). Se der, na volta, posto aqui algumas dicas sobre o sul da Irlanda.

See ya, então! 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dublin x Galway



The Custom House
Algumas pessoas que pensam em vir pra Irlanda me mandaram e-mail durante esses meses pois estavam na dúvida se escolhiam Dublin ou Galway. Achei demóóóis, porque descobrir que não é só tua família e amigos que leem o blog é bem gratificante e tu se acha o máximo hehehe. Mas na verdade, não podia ajudar muito essa galera porque eu nunca tinha efetivamente visitado Dublin (St. Patrick’s Day não conta nessas horas, definitely). Eu só podia falar sobre isso baseado no porquê da minha escolha. Desde o início eu já tinha gamado em Galway porque eu curto muito essa coisa mais tradicional, mais interior, mais cara de Irlanda. Só que se compararmos na questão de grana, os valores das escolas de Dublin são mais baratos do que os de Galway devido ao número de instituições que há na capital, gerando mais concorrência e claro, melhores preços.

Enfim... esse final de semana visitei uma amiga coreana em Dublin. De cara já constatei algo que eu nunca quis admitir pra mim mesma, mas que é a mais pura verdade: eu tenho fobia de cidade grande. Aquele barulho, aquela correria, carros, pessoas, buzinas, sirenes, gritos. Isso me passa uma sensação meio de pânico e histeria. Algo que definitivamente não me soa saudável (falou a velha colona dona de sete gatos e um lote atrás de casa).

Dublin é uma cidade velha, mas bonita, que mantém alguns traços irlandeses, mas deixa evidente a mistura que se tornou. Espanhois, coreanos, indianos, africanos, brasileiros – MUITOS brasileiros. Resolvemos dar uma volta pela cidade, conhecer alguns pontos, praças, prédios históricos.  Tudo muito bonito e tal, claro. Mas sabe quando tu chega num ambiente aconchegante e se sente bem? Dublin não foi o caso pra mim. Pra reforçar isso, encontrei uma amiga brasileira que há anos não via. Fomos a um evento na cidade, o Tall Ships. Confesso que não entendi o propósito daquilo, sendo que não vi quase nenhum navio. Só uma multidão indo pra todos os lados, com chapeuzinho de marinheiro. Até o Volvo Ocean Race de Galway,  que eu n achei grande coisa,  batia de 10 a zero nesse festival, já que ao menos tinha um propósito. Claro, talvez isso tenha acontecido porque eu não me programei, ou porque n fui nos lugares certos. Mas esse ambiente caótico e insosso tava me pertubando.

Agitação na Grafton St.
Isso significa que é hora de buscar refúgio no canto sagrado da Irlanda, onde tudo fica mais bonito: o pub! Certo? Errado. A cara de tacho do atendente – que eu arrisco dizer que era gerente – era de dar dó. Depois de ter nos ignorado por muito tempo, ele finalmente nos atendeu sem nem ouvir, já dizendo: “Pra vocês é chá, né? Pq eu só vendo bebida com identidade.” Na hora achei que brincadeira  e me senti lisonjeada – “Uau, ainda engano com uma carinha de 18, Yes! “ Mas não, o cara foi um estúpido mesmo. Cadê as pessoas legais e amigáveis??? Onde estão vocês?? Eu sei que vocês também existem em Dublin!!!

Me senti uma colona do interior na cidade grande quando entrei na loja da Prada, com seu carpete branco reluzente e preços um pouco acima do meu patamar. Só faltou o chapéu de palha, a sandália com meia e a enxada nas costas pra completar a cena. Eu tava era abismada com todo aquele luxo. É tudo muito... muito! hehe. No centro da cidade tu tem uma overdose de lojas. Enormes, com 2, 3, 4 andares, milhões de opções que no início pareciam fantásticas, mas aos poucos foram se tornando iguais. E aos poucos tudo aquilo foi ficando meio chato... Não sei se foi birra minha ou se o meu resfriado iminente era o culpado, mas eu já tava perdendo as esperanças quanto essa cidade.
 
Temple Bar e suas figuras exóticas
Até que finalmente achei um canto onde eu pude respirar: O Temple Bar. E não foi por causa dos pubs não. Ali é um dos centros culturais da cidade, com lojinhas vintage, de design, produção própria e também com teatros, cinemas, escolas de arte/atuação/cinema e onde fica o Instituto de Filmes da Irlanda. Além disso, almocei num restaurante italiano super 10, onde fizemos amizade com toda galera e, de quebra,  minha amiga já arranjou uma oportunidade de trabalho.

A partir daí, finalmente comecei a olhar pro brightside de Dublin e perceber que afinal de contas, é uma cidade legal, sim. Eu que não tava no meu melhor dia. A gente só precisa achar o lugar em que a gente melhor se encaixa. Sem contar que tem inúmeras opções pra tudo: restaurantes, lojas, entretenimento, etc.

Yu Kyung com Chinotto, um refri italiano feito com laranja

Então agora se me perguntam Dublin ou Galway, eu já tenho uma resposta mais concreta. A minha dica primordial é: saiba do que você gosta e o que você procura numa cidade quando fizer intercâmbio. Se tu é do tipo de pessoa que é cosmopolita, gosta de agito, diversidade, barulho, Dublin é uma baita escolha, tá no caminho certo. Agora, se tu é mais chegado numa old town, com carinha mais típica, mais interior, sem todo auê de cidade grande, mas animada e agradável, Galway é perfeita pra isso. Não leve em conta o número de brasileiros. Galway tem bastante e nem por isso eu mudei de ideia ou aprendi menos. Teu aprendizado depende basicamente da TUA atitude perante a isso.

Eu voltei pra Galway com duas certezas: a primeira, de que eu tinha feito a escolha certa vindo pra cá. A segunda é a de que eu tava resfriada... droga :/

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Beber, cair e levantar


The Quays: um dos pubs mais famosos em Galway

Irlanda: Trevos, campos verdes com ovelhas, casinhas de sapê, Guinness, pubs. Ah, os pubs.  Me dei conta de que não falei sobre algo tão trivial, tão comum, tão... Irlanda. Imperdoável de minha parte.

Mas ainda dá tempo. E essa semana veio a calhar. Motivo: uma lei que existe há um tempo aqui, mas que não era levada à risca pelos donos de bares, resolveu voltar a receber atenção em Galway. Essa lei determina que os pubs devem ficar abertos até às 11:30pm de segunda à quinta, e até à 12:30am na sexta e no sábado, com meia hora de tolerância todos os dias.  Os donos que abrem mais tarde também podem ficar até mais tarde, fechando à 1am em dias de semana e 2am nos findis. Confesso que ainda não entendi a medida... e lendo os jornais daqui não fica claro o porquê de resolverem reforçar a fiscalização agora, ainda mais com o número de pessoas nas ruas ser maior no “verão” (se é que podemos chamar isso de verão).

Ahhh, ficaram impressionados com os horários? Pois é, filho, aqui é assim. Aqui festa acaba cedo MESMO.  Mas também, às 2 da tarde já tem neguinho sentado no balcão, pedindo uma bira. Acho que já comentei em algum post sobre como é bizarro: no máximo do máximo às 2 e meia da manhã o Dj desliga o som, guarda os apetrechos, acendem-se todas as luzes – o que tira qualquer possível magia que o lugar pudesse ter, acreditem –  os garçons passam o mop no teus pés e o segurança delicadamente te empurra pra fora do estabelecimento.

The King's Head: Primeira opção dos turistas

E outra coisa: bebida fora dos pubs, depois das 22h não é vendida. Mesmo no Tesco 24horas. Chega 9 e meia da noite, “os irish pira” e correm pros mercados e lojas off-license. Vocês precisavam ver na véspera da sexta-feira santa: não é permitido vender bebida durante todo o dia... uma lei ainda vinculada à igreja, by the way. Esse dia foi um auê... re-a-liza! As prateleiras estavam completamente vazias, um arrastão, parecia que ia acontecer um furacão e todo mundo precisava comprar seu suprimento de cervejas e cidras. Ah é, aqui as mulheres bebem muita cidra – blérgh – geralmente Bulmers.

E é incrível como o pessoal bebe. Assim ó... mah bebe! Mesmo com essas leis e com o imposto sobre bebidas ser um dos maiores da Europa (em geral perdendo apenas para a Finlândia, Suécia e UK na Europa), a galera entorna o caneco!  O valor médio de uma pint de Guinness nos pubs mais frequentados é de € 4, o que dá quase 12 pila...  Nesse caso, a lei que se aplica aqui para os brasileiros é “quem converte não se diverte”. True story.

A mais popular, sem dúvida.

Só aqui em Galway são mais de 70 pubs. Isso mesmo: uma cidade com não mais que 100 mil habitantes tem mais de 70 pubs (sem contar restaurantes e bibibis). E não, não precisa pagar pra entrar, como na nossa estimada Caxias do Sul. Aqui tu entra e sai livremente sem precisar tirar um pila do bolso. Mas, né... o pessoal aqui quando se trata de cerveja não é nada mão de vaca (também, bem diferente do nosso estilo gringo de ser caxiense).

Eu até tentei montar o chamado Projeto 72, com os nomes e endereços de todos os pubs pra ir riscando da lista aos poucos. Mas no fim das contas a gente acaba sempre indo nos mais próximos ou onde vão mais conhecidos.  Segundo minha contagem, consegui visitar até agora 25 pubs. Um número bem abaixo das minhas expectativas... mas ainda tem um tempinho pra tentar dar um upgrade.

Outra grande coisa dos pubs: música. A maioria esmagadora sempre tem bandas tocando. 98% deles são ótimos músicos e de todos os gêneros. Não que eu super entenda de música, mas né... a gente saca quando o bagulho é bom.  Pra vocês terem uma ideia: segunda-feira passada fui assistir em um pub chamado Busker Brownes uma orquestra de metais com uma cantora de funk, de uma das bandas que eu gosto aqui, a Getaway Gondola. Se tu fechava os olhos e deixava rolar aquele som de Sinatra, tu podia achar que estava em uma daquelas festas norte-americanas de filme chiquésimas dos anos 40. Se não bastasse tudo isso, o pessoal daqui é tão animado, tão amigável e de boa que tu só sai de um pub sem fazer amizade se tu não quiser.

Então se vocês tinham aquela imagem de que irlandês é um povo alegre e beberrão, posso dizer que, pelo menos em Galway, é assim mesmo. Assino embaixo, com uma pint de Guiness na outra mão, é claro.

O'Conners: um dos pubs mais tradicionais. Uma espécie de "Paiol" irlandês


terça-feira, 14 de agosto de 2012

O mundo é maior que o teu quarto

É, cambada... já foram cinco meses.
Parece que foram 12, parece que foi um.

Quando eu digo que fazer intercâmbio é tipo Lost, acho que só quem fez isso é capaz de entender. Não me entendam mal, ou que isso é esnobe,  ou sei lá... mas é que é um mundo muito particular, quase paralelo, totalmente diferente da realidade. Aqui em Galway, especialmente, o ambiente contribui muito para essa impressão, já que é uma cidade muito viva, com uma mistureba de culturas que é incrível.

Agora é uma época de transição, onde muitos brasileiros tão chegando, muitos tão indo embora. E é muito engraçado quando a gente encontra um recém-chegado, pedindo informações sobre o visto, apartamentos pra alugar, como abrir conta no banco... parece que foi ontem que eu é que tava no outro lado perguntando. Hoje é eu que tô dando as respostas...  me sentindo uma “veterana”.  

E durante esse processo, a gente entende muita coisa sobre si mesmo e sobre as pessoas. Aprender inglês, pra maioria, é uma grande desculpa. Tem gente que se descobriu, veio em busca de autoconhecimento, autoconfiança, abrir os horizontes. Vão voltar pessoas melhores, com novas ideias, novos destinos. Vida nova.

Eu não sou muito adepta de posts pessoais. Nem mudei minha vida ou encontrei Jesus (apesar de terem muitos espanhois que atendem pelo nome). Mas essa nostalgia me levou a pensar em coisas que eu aprendi aqui e que vou levar comigo. Talvez muito do que tá aqui não entra na lista de outras pessoas. São coisas que parecem bobas, óbvias. Mas que durante essa viagem ficaram muito evidentes pra mim porque eu vivi elas.

Então queria dividir um pouco disso com vocês (e também escrever em algum lugar pra não esquecer, caso eu precise de alguma referência futura, em alguma palestra motivacional que eu vá dar no futuro... a gente nunca sabe o dia de amanhã).

Algumas lições bem gerais, porque dar exemplos óbvios e citar nomes podem gerar processos na justiça, desentendimentos e até separações (Marcelle semeando a discórdia desde 1986):

- Primeiríssima lição, mais difícil e que será útil durante toda a tua estada: Desapego!!!!  Material e pessoal. Resume muito dos sentimentos aqui. É um troço difícil, mas tu supera.

- As pessoas são muito diferentes, têm prioridades diferentes e o mais interessante: conceitos diferentes. O que parece óbvio aos olhos de uns é exatamente o oposto aos olhos de outro. (Isso me leva ao item de que gaúchos tem uma língua própria. Ninguém aqui sabe que guisado é carne moída, rancho é a compra do mês, negrinho é brigadeiro e tema é lição de casa...)

- Eu tive uma educação privilegiada em todos os sentidos. Com toda a modéstia, mas, pai e mãe, sério...  vocês arrasaram. 

- Acredite no teu sexto sentido. É incrível como ele não falha e como ele sabe quando as pessoas são boas ou ruins. Mas não deixe que a primeira impressão te impeça de tentar um contato maior. Pode ser que as pessoas sejam apenas... diferentes.

- Tu não precisa tentar se encaixar num lugar/grupo que tu sabe que não pertence. Sempre há outras pessoas que estão na mesma vibe que tu.

- Evite ser radical. Aqui é o momento de entender o diferente, de ser político, de abrir espaço pra novas ideias. Mas há situações que é necessário sim manter uma postura rígida, nada de corpo mole. Caso você chutou o balde e foi radical mesmo, aprenda a lidar com as consequências.

- Convivência é uma questão de sobrevivência. Mas faça o possível pra que seja ótima!

- Se você não sabe cozinhar... vai aprender. Não a cozinhaaaar, mas ao menos a fazer arroz e massa.
(lição atualizada na hora do almoço) 

- Tu vai fazer muitos amigos aqui.  E vai ser ótimo! Troca de experiências, de informação, de tudo! E só não tem companhia para festa se quiser ir sozinho. Mas infelizmente, a maioria dessas pessoas, tu nunca mais vai ver e vai perder o contato. Vai dar um oizinho no facebook de vez em quando, vai visitar enquanto estiver por aqui...  e eras isso. Como na vida “real”, os bons e fieis não preenchem uma mão. 

- Esqueça os convites formais. Se uma pessoa é tua amiga num dia não quer dizer que ela vai te convidar pra todas as festas ou eventos sociais. E não há nada de mal nisso.  (confesso que esse foi o mais f*da pra aprender... e ainda é difícil). Ou seja: simplesmente pegue seu fardo de cerveja e dirija-se à festa mais próxima (mesmo sem saber quem é o anfitrião).

- Tu vai perceber (se já não sabe) que teus pais, namorado (se tiver) e amigos são as pessoas mais importantes do mundo. Mas nenhum deles faz tanta falta (que chega a doer só de pensar) quanto o teu cachorro ou o teu gato (foi mal aí, galera).

- Tu pode viver sem televisão. Já sem internet ou celular...

- Brasileiros são onipresentes (especialmente em festas);

- O mundo é maior que o teu quarto e chuva não é ácida (um salve pra quem tá em Galway e sabe bem do que eu to falando!)

E tem aquele velho clichê mas que encaixa bem nesse caso: viva o teu dia aqui como se fosse o último. Porque, afinal de contas, algum dia ele será. E você vai ter que dar adeus mais uma vez... aqui em Galway, geralmente, o point é na Coach Station.

sábado, 4 de agosto de 2012

Galway ferve no verão

Foto: Galway Independent

Como eu disse há alguns posts atrás, verão em Galway é uma loucura... a cidade ferve. Não na temperatura, porque né... média de 15 graus e chuva todos os dias. Mas alta temporada aqui atrai muita gente, não só pelas belezas naturais e pela noite agitada, mas também pelos eventos.

Depois do Volvo Ocean Race e do Film Fleadh, tem o Galway Arts Festival, que é considerado o maior festival de arte na Irlanda. Pra minha tristeza, não consegui ver quase nada por algumas razões. A primeira e mais óbvia: grande parte dos eventos era paga. E quando eu digo paga, não digo 2 euros, mas 10, 20, 30, 40. O que pra mim era um pouco caro. Havia apresentações de teatro, música e dança. Boa parte das atrações eu não conhecia, mas tinha show, por exemplo, do Sargento Motor Mouth, o cara da Loucademia de Polícia que fazia sons com a boca (25 euricos). Entretanto, haviam algumas poucas coisas legais de graça, como artistas de rua e uma exposição de arte com obras de colagem e esculturas de um artista chamado David Mach, que eu achei sensacional.
 
Outra: choveu muito durante a semana. Não que a chuva sirva de desculpa pra ficar em casa em Galway, já que aqui chove todos os dias, só que geralmente é garoa. Só pra terem uma noção, enquanto eu escrevo esse post já fechou o tempo e choveu 4 vezes, intercalando com um sol lindo. Aquela semana não. Só caiu bomba d’água ininterrupta, inclusive durante a Macnas Parade, que era o desfile pra finalizar o festival. Esse eu vi (óbvio, era de graça).

Macnas Parade - quase uma Olinda com bonecões gigantes

Foto: Galway Independent
Mas o desfile, além de ter sido curtíssimo - provavelmente devido à chuva - tinha alguns carros alegóricos que eu já tinha visto no desfile de St. Patrick em Dublin. Ou seja, refugo total. Minha suposição (não só minha, mas de outras pessoas): a grana toda deve ter sido usada no Volvo e não sobrou nada pras artes. Se for isso mesmo, a novela se repete, só muda de endereço. 


Galway Races

Fotos: Galway Advertiser
 
Passado o Arts Festival, era a vez de uma das semanas mais aguardadas pela sociedade galwegiana: as Galway Races. Uma semana inteirinha de gente emperiquitada que vai assistir às corridas de cavalo em Ballybrit. Mas a atração não fica por conta dos cavalos, mas sim das competições bizarras que acontecem durante o evento e da bebedeira declarada, que inclusive, é anunciada até em um site de turismo da cidade. A primeira delas, a corrida das noivas, onde mulheres de todas as idades disputam uma corrida vestidas à caráter.

Noivas em fuga
Depois tem o famoso Ladies Day, em que uma mulher é escolhida como a mais elegante. E todas elas usam aqueles chapéus super extravagantes (também tem prêmio para o melhor chapéu).

Melhor chapéu (esq.) e a mais bem vestida. Que dupla, hein?
Um dos modelos mais comentados entre as competidoras.
Agora... se você pensa que o bacana tá apenas em ver todo mundo mega "chique", você está muito enganado. O Ladies Day é também conhecido como o dia em que Galway vira um pandemônio, onde todos ficam muito bêbados em um nível extremo. Até então, eu não achava nada demais, porque aqui todo mundo bebe e sempre tem bêbados nas ruas. Mas o que eu vi nessa última quinta-feira é algo além do comum. Alguém aí assiste Walking Dead? Se sim, imaginem que ao invés de zumbis você tem bêbados nas ruas. É mais ou menos essa cena que eu presenciei depois das 9 da noite. 

Uma das mais simplesinhas
As ruas tavam transborandando de copos plásticos, garrafas e papeis. Aquelas mulheres emperiquitadíssimas que eu havia visto no alto de seus saltos, estavam no chão, deitadas nas poças de chuva, bêbadas com seus luxuosos vestidos azuis sendo encardidos por causa da sujeira no chão. Os meninos já estavam sem gravata e com ternos atirados por aí na rua (o desapego aqui é algo que impressiona muito ainda). Gritos, correria, tumulto, música. Um troço assim. Eu tava mais perdida que surda em bingo, mas rindo muito.

Óbvio que eu aproveitei pra fazer umas fotinhos, ao menos das que estavam em algum estado digno. Porque das outras eu fiquei com dó. (Tá, mentira, algumas eu até filmei, esperando que elas caíssem do salto [bicha má mode: on]) Mas foi super divertido conversar com algumas das gurias, super contando como tinha sido preparar seus chapéus, ou falando sobre os chapéus exóticos que elas tinham visto durante o dia. Ou então papear com o grupo de bêbadas que ficou impressionado com o cabelo e a pele da Cecília, que é morena de cabelo crespo.

Alguns chapéus são feitos pelas próprias mulheres, como essas da foto.

Parece uma coisa meio Barbie, não?

Parte do grupo de meninas que a gente conheceu no furdunço, muito legais (e bêbadas)

Sei que o que eu presenciei naquela noite foi algo “apocalipticamente” engraçado e que eu não imaginava que Galway pudesse ter: mais bêbados do que já tem.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Achar um cantinho

Brincos arrecadados. Óbvio que não é cristal, mas né... de graça até injeção na testa.

O fato de morar em um flat com pessoas das mais diferentes nacionalidades, costumes e hábitos era uma experiência pela qual eu queria muito passar. Pois bem, já faz quatro meses e meio que moro em um flat pertinho da escola e divido com outras três pessoas: um coreano, uma mexicana e há um mês com um brasileiro.

No início, torci um pouco o nariz pra isso, porque né... morando com brasileiro é inevitável falar português, não estamos aqui pra isso e blá blá blá. Mas devo dizer que tá sendo ótimo morar com alguém que entende o quanto o conceito de limpeza é importante e que casca de ovo é lixo orgânico e não reciclável. Sem contar que o Matheus é menino prendado, fez uma geral na cozinha e no banheiro partilhado (que não é meu caso) e até tá aprendendo a cozinhar. Às vezes é bom levar em consideração o lance da convivência e não só o do idioma.

Mas enfim, estávamos ontem em uma dessas maratonas de limpeza, quando resolvemos dar uma geral no armário da sala, que eu confesso, nem chego perto. Achamos a chave a abrimos as portinhas empoeiradas. É incrível a quantidade de coisas que se podem encontrar em uma dessas aventuras. Eram dezenas de cartas datadas de 2001 (!!), cartões de natal com fotos de bebês, panfletos falando sobre a fome no Afeganistão, canetas Bic (muitas canetas, eu diria) e badulaques em geral. Conseguimos arrecadar várias coisas. Eu por exemplo, catei um par de brincos novinho em folha e uma pulseira, sem contar outras várias bugigangas.

E pelo que conversei com alguns amigos hoje, isso não é fato isolado. Hoje ouvi que uma menina, nessas limpezas dentro de casa, achou até uma caixa de charutos cubanos! Pra nós brasileiros, em geral, as casas aqui são uma bagunça. A fama dos irish não é nada boa quando se fala de limpeza. É um dos grandes problemas ao tentar encontrar um apartamento aqui: muitos reclamam da sujeira e dos entulhos espalhados. E pensa: são anos de coisas acumuladas (tipo, 2001?? Ninguém abria o nosso armário há mais de 10 anos??? WTF!”). Ninguém dá bola porque o apartamento é alugado, portanto não é teu, sendo assim ninguém se importa com o que tem ou deixa de ter no lugar. O que eu acho uma tremenda bobagem, mas né... ‘cadum cadum’.

Dividir apartamentos aqui é prática mais que comum e isso não é restrito a estudantes solteiros. Muitos casais e até famílias dividem as casas com outras pessoas, tudo numa boa.  Numa “boa” né, porque morar junto já é complicado entre família, imagina com estranhos. Então não há aquela coisa que eu sempre achei o normal: quando jovem, deve ser legal dividir apartamento, mas depois de formada e estabilizada, irei comprar um apartamento pra mim ou dividir com meu namorado. Não. Isso não funciona assim aqui em Galway. Até porque, é uma cidade universitária e turística, ou seja, tem uma rotatividade muito grande pessoas. A principal fonte de procura é o site daft.ie, mas na escola também é muito comum encontrar estudantes deixando o apê e procurando alguém pra substituir. 

Eu tive sorte. Muita sorte, eu diria. Achei de cara um apartamento bem localizado, por um preço bem acessível, quarto com cama de casal e banheiro, além de flatmates relativamente tranquilos. Mas as histórias que a gente ouve aqui são aterrorizantes, desde flatmates psicopatas que criam lagartos até malucos que invadem quartos pra fazer xixi no carpete. Longas histórias.  

Anyway, realizei meu desejo de morar com outras pessoas. Tô aprendendo muita coisa (boa e ruim), aprendendo a lidar com diferenças, problemas e cobranças, além de estar curtindo muito essa vida “adulta” de ter que fazer minhas compras, lavar minha roupa e até limpar o meu banheiro. Mesmo assim, podem me chamar de individualista capitalista do caramba, mas eu já to louquinha pra ter o meu cantinho assim que eu voltar.