segunda-feira, 23 de julho de 2012

Achar um cantinho

Brincos arrecadados. Óbvio que não é cristal, mas né... de graça até injeção na testa.

O fato de morar em um flat com pessoas das mais diferentes nacionalidades, costumes e hábitos era uma experiência pela qual eu queria muito passar. Pois bem, já faz quatro meses e meio que moro em um flat pertinho da escola e divido com outras três pessoas: um coreano, uma mexicana e há um mês com um brasileiro.

No início, torci um pouco o nariz pra isso, porque né... morando com brasileiro é inevitável falar português, não estamos aqui pra isso e blá blá blá. Mas devo dizer que tá sendo ótimo morar com alguém que entende o quanto o conceito de limpeza é importante e que casca de ovo é lixo orgânico e não reciclável. Sem contar que o Matheus é menino prendado, fez uma geral na cozinha e no banheiro partilhado (que não é meu caso) e até tá aprendendo a cozinhar. Às vezes é bom levar em consideração o lance da convivência e não só o do idioma.

Mas enfim, estávamos ontem em uma dessas maratonas de limpeza, quando resolvemos dar uma geral no armário da sala, que eu confesso, nem chego perto. Achamos a chave a abrimos as portinhas empoeiradas. É incrível a quantidade de coisas que se podem encontrar em uma dessas aventuras. Eram dezenas de cartas datadas de 2001 (!!), cartões de natal com fotos de bebês, panfletos falando sobre a fome no Afeganistão, canetas Bic (muitas canetas, eu diria) e badulaques em geral. Conseguimos arrecadar várias coisas. Eu por exemplo, catei um par de brincos novinho em folha e uma pulseira, sem contar outras várias bugigangas.

E pelo que conversei com alguns amigos hoje, isso não é fato isolado. Hoje ouvi que uma menina, nessas limpezas dentro de casa, achou até uma caixa de charutos cubanos! Pra nós brasileiros, em geral, as casas aqui são uma bagunça. A fama dos irish não é nada boa quando se fala de limpeza. É um dos grandes problemas ao tentar encontrar um apartamento aqui: muitos reclamam da sujeira e dos entulhos espalhados. E pensa: são anos de coisas acumuladas (tipo, 2001?? Ninguém abria o nosso armário há mais de 10 anos??? WTF!”). Ninguém dá bola porque o apartamento é alugado, portanto não é teu, sendo assim ninguém se importa com o que tem ou deixa de ter no lugar. O que eu acho uma tremenda bobagem, mas né... ‘cadum cadum’.

Dividir apartamentos aqui é prática mais que comum e isso não é restrito a estudantes solteiros. Muitos casais e até famílias dividem as casas com outras pessoas, tudo numa boa.  Numa “boa” né, porque morar junto já é complicado entre família, imagina com estranhos. Então não há aquela coisa que eu sempre achei o normal: quando jovem, deve ser legal dividir apartamento, mas depois de formada e estabilizada, irei comprar um apartamento pra mim ou dividir com meu namorado. Não. Isso não funciona assim aqui em Galway. Até porque, é uma cidade universitária e turística, ou seja, tem uma rotatividade muito grande pessoas. A principal fonte de procura é o site daft.ie, mas na escola também é muito comum encontrar estudantes deixando o apê e procurando alguém pra substituir. 

Eu tive sorte. Muita sorte, eu diria. Achei de cara um apartamento bem localizado, por um preço bem acessível, quarto com cama de casal e banheiro, além de flatmates relativamente tranquilos. Mas as histórias que a gente ouve aqui são aterrorizantes, desde flatmates psicopatas que criam lagartos até malucos que invadem quartos pra fazer xixi no carpete. Longas histórias.  

Anyway, realizei meu desejo de morar com outras pessoas. Tô aprendendo muita coisa (boa e ruim), aprendendo a lidar com diferenças, problemas e cobranças, além de estar curtindo muito essa vida “adulta” de ter que fazer minhas compras, lavar minha roupa e até limpar o meu banheiro. Mesmo assim, podem me chamar de individualista capitalista do caramba, mas eu já to louquinha pra ter o meu cantinho assim que eu voltar.

domingo, 15 de julho de 2012

Galway Film Fleadh


Continuando a temporada de festivais, chegou a hora do que eu mais estava esperando: o festival de filmes. Claro que depois do banho de água fria que tive no Volvo Ocean Race, tinha perdido toda e qualquer expectativa.

Faixa simplesinha, mas que esconde uma boa programação.
O Galway Film Fleadh (Fleadh se lê “flá”) é um dos maiores festivais de filme da Irlanda, acontece todos os anos no mês de julho e está na 24ª edição. Por seis dias, cineastas, produtores, diretores, atores e cinéfilos de toda a Irlanda circulam por aqui. Esse ano foram sete premieres europeias e 13 mundiais durante o festival. (Alguns dos atores de Game of Thrones estavam por aqui \o/)

Cinema sobre rodas: sessões no Cinemobile sempre lotadas
Fui selecionada pra ser voluntária e ajudar naquelas coisinhas básicas: confere ticket, entrega cédula de votação, cuida da mesa de merchandising, etc... mas em compensação, todas as sessões que não estavam lotadas, eu pude assistir :D. Como tem várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e em lugares diferentes, é difícil acompanhar. Mas deu pra ver muita coisa bacana. 

A foto tá péssima, mas dá pra ver que eu sou voluntária, né? :D
De uma forma simples, foi tudo super bem organizado. Eu sabia o meu papel, os coordenadores também e todo mundo foi muito querido e prestativo e super me deram força, mesmo eu sendo estrangeira. O mais engraçado é que era uma oportunidade bacana pra aprimorar meu inglês... mas o que eu encontro no primeiro dia? Uma irish que fala fluentemente português ¬¬. De qualquer forma, foi muito bom ter contato direto com gente daqui.

Esse é um dos poréns de estudar uma língua em outro país. Muitas vezes a gente fica preso ao ambiente escolar e só faz amigos dentro da escola. Sim, é ótimo, tu conhece muita gente do mundo inteiro, mas fica faltando aquele contato mais direto com o local onde tu tá e com as pessoas. Ainda mais aqui, onde o sotaque irlandês é difícil de entender (até mesmo entre os nativos!)

Hoje foi o último dia, infelizmente. Esse clima de festival é uma mistura de tensão – porque somos da organização e temos que fazer dar certo – com uma empolgação que fazia tempo que eu não sentia. Assistir filmes, comentar, falar do diretor, influências etc etc parece chato pros outros, e deve ser mesmo. Mas pra quem curte é tipo uma doença. E fazer isso em inglês foi demais... Fazia tanto tempo que eu não assistia um flime e prestava atenção nele que eu tinha até esquecido como eu adoro falar sobre isso. 

Galway despertando paixões de um passado não tão distante.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Volvo Ocean Race - Galway


A temporada de verão em Galway é uma loucura. Sempre tem mil de festivais, gente que vem passar as férias ou simplesmente dar uma banda. Acho que eu não comentei aqui, mas Galway também tem praia. Sim, há apenas 15 minutinhos de caminhada da minha casa estou de cara para o Atlântico. Mas não vão se animando não, que isso não é nenhuma Barcelona. Nem tirei meu biquíni da mala, já que a média aqui é de 15 graus com milhões de chuvas esporádicas durante o dia (welcome to Ireland).
 
Esse ano, pra deixar o lugar ainda mais agitado, rolou na primeira semana de julho o Volvo Ocean Race. É a mais conhecida regata ao redor do mundo, que ocorre a cada três anos e dura mais ou menos oito meses. Os barcos vão parando em diferentes lugares do mundo e Galway, na última edição, foi uma das paradas. Reuniu tanta galera e foi tão legal que esse ano foi escolhida pra sediar a parada final. Então, a cidade tava respirando Volvo Ocean Race desde que eu cheguei. Só se falava disso nos jornais e rádios.
Barquinhos nas docas


Parada final: Galway \o/
Os barcos da competição chegaram efetivamente em Galway na madrugada de segunda pra terça. Of course, eu estava lá, junto com outras milhares de pessoas, passando e frio e me molhando naquela chuvinha básica de toda hora. No total, o evento recebeu quase um milhão de pessoas durante esses oito dias.

Kayla, Hyunju e eu espernado os barcos, depois de um McBurguer de 1 euro.
Chegada dos vencedores. Eu tava com a câmera digital, não deu pra fazer uma foto decente.
Me inscrevi pra ser voluntária. Achei que seria bacana fazer parte disso de uma forma mais ativa. Mas acho que pela inexperiência da equipe em fazer um evento tão grande, a situação dos voluntários foi um caos total. Mais de 1500 pessoas, onde ninguém sabia o que fazer, tudo foi decidido na última hora, cada um foi jogado num canto e alguns muitos não precisavam estar lá. Eu fui trabalhar no apenas primeiro dia... meu turno iniciava às 9 da manhã e ia até às 5 da tarde. Trocaram 18 vezes meu setor e me colocaram no único que eu disse que não queria ir: com as crianças ¬¬. Comecei a trabalhar efetivamente às 5 pras 5 porque o lugar ainda não tava pronto. Uma beleza, hein? Mas ao menos me diverti protegida da chuva, já que fiquei responsável pelo simulador de retroescavadeira. Desisti de participar nos dias seguintes, assim como muitos que quiseram ajudar e não tiveram o respeito devido.

Sente a concentração da motorista.
Como eu adoro comparações, principalmente com a terrinha, posso dizer que era uma Festa da Uva irlandesa: tendas de comida, turismo e artesanato, acompanhada de shows nacionais. Só faltou a degustação de uva. Brincadeiras à parte, o legal é que boa parte da programação foi gratuita, então assisti Thin Lizzy e Sharon Shannon sem precisar tirar um tostãozinho do bolso.

Vai dizer que não parecem as tendinhas dos pavilhões da festuva?
A noite de Galway também tava um auê. Um caminho que durante o dia eu levo 5 minutos pra fazer, levei 40. A Shop Street-Latin Quarter tava intransitável de tanta gente... e incrivelmente, algumas coisas ainda estavam abertas durante a madrugada! Os pubs aqui fecham cedo. O máximo do máximo é ficar aberto até às 2 e meia da manhã e nada mais. E eles não tem aquele lance de colocar musiquinha lenta de “vão embora”. Eles desligam o som, acendem as luzes e os seguranças já pedem educadamente pra tu se retirar. Os latinos que vem pra cá ficam emputecidos, porque né... geralmente vão pra festa depois da meia-noite. Mas durante essa semana do VOR, a cidade tava atipicamente atulhada de gente, especialmente à noite. Em uma das noites fecharam uma rua pra uma Silent Disco. Uma loooooucura e muito engraçado aquele bando de gente dançando e cantando sem música.

Se ela dança eu danço: galera em peso na Street Silent Disco

Para as pessoas envolvidas, autoridades e imprensa local, o Volvo Ocean Race foi um grande sucesso, abalou geral e não houveram falhas. Não sei se é implicância minha, mas eu achei bacana sim, ótimo pros negócios locais e tudo o mais. Mas não foi legal ao ponto de ter sido um top sucesso. Tudo bem simplório, estrutura também a desejar (colocaram latas de lixo apenas no quarto dia!!), equipe despreparada e muita confusão de horários de eventos. Galway em alguns aspectos tem aquela coisa de ser cidade grande com mentalidade de cidade de interior. Já vi essa novela em algum outro lugar.

Fogos em 4 de julho USA: cada dia, um dos países envolvidos era homenageado