quarta-feira, 25 de abril de 2012

Go, Connacht!!



Eu achei que tendo acesso à internet, seria muito fácil pra atualizar o blog. Pelo contrário, ficou ainda mais difícil! Acabo me distraindo ou fazendo outras coisas, já que agora não moro tão longe. Estou dividindo um apartamento com dois coreanos e uma mexicana, num lugar super bem localizado, por um precinho bem camarada. “Lucky girl” foi o que eu mais ouvi. É... vou espalhar sal grosso na frente do quarto por via das dúvidas.

Enfim... uma das coisas mais bacanas de se fazer intercâmbio é poder viver um pouco do dia-a-dia do povo que mora aqui e não só fazer aquele passeio de turista. E pra fazer isso aqui na Irlanda, uma regra é assistir pelo menos um jogo de Rugby, um dos esportes mais populares no país. O time aqui de Galway é o Connacht. Bandeiras e cartazes em tons verde e preto estão espalhados por toda a cidade: nas casas, nos pubs, nas lojas... e o time nem tá bem no campeonato, viu? (bem diferente de um outro time, de um outro esporte, em outra cidade...).

Fiquei sabendo que haveria uma partida do campeonato nacional contra o Ulster, time que tava bem colocado na tabela. Eu tava determinada a comprar os ingressos, apesar dos preços bem acima do meu patamar de estudante (€ 30 inteira e € 15 para estudante). Coincidentemente, a escola onde eu estudo fez uma parceria com o time e foram vendidos ingressos a € 5. Juntamos uma boa turma e fomos rumo à partida. O estádio foi reformado ano passado, tem capacidade pra mais de 9 mil pessoas e é multifuncional: serve pra rugby, futebol e até pra corrida de cachorro, que é chamada de greyhound race, onde a galera aposta no totó que correr mais rápido. Eu ainda não fui ver... mas..

Torcida do Ulster com o quê na mão? Cerveeeeja, é claro.
O time visitante, mesmo em menor número, tinha uma galera mais animada do que a do Connacht (volto a me lembrar de um outro time, de outro esporte, em outra cidade no interior do RS, com torcedores parecidos...). Aqui não tem essa de cada um num canto não... tudo ‘xunto e misturado’. E muito respeitoso, sem folia. Um dos meninos espanhóis bem que tentou vaiar, mas uma senhora da própria torcida do Connacht, com uma bola de rugby na mão, mandou ele parar. A foto deixa claro porque ele ficou quietinho.

E aí, vai encarar?
Antes da partida, um momento muito singelo. No telão, um rapaz pede que todos aplaudam a moça que vai entrar vendada no campo pois ela vai cantar, de surpresa, o hino de alguma coisa que eu não entendi o que era. Emocionada, ela cantou MUITO mal o que quer que fosse aquilo, sob os aplausos da galera. (Isso me recorda, novamente, aquele momento brega que aquele mesmo time mencionado, resolve fazer durante os intervalos, cantando musiquinhas e convocando – sem sucesso – a torcida pra acompanhar).

Eu bem que gostaria de explicar o rugby pra vocês, mas claro, o jogo foi incompreensível pra mim. Conheci um casal de senhores muito simpáticos. Ele foi jogador quando jovem e tentou me explicar as regras, sem muito sucesso. Ela também não entendia nada do jogo, assim como eu. Mas em compensação, de cerveja... E pra assistir é tão tranquilo que chega ser uma várzea. O povo faz piquenique do lado das placas de propaganda, sem cogitar a possibilidade de que um brutamonte pode te derrubar a qualquer momento. Resumindo, rugby é um futebol americano misturado com aquela brincadeira típica do colégio, o “montinho”, só que de forma profissional e com homens musculosos e sem pescoço. Ok, é uma descrição bem esculachada, peço desculpas antecipadamente aos admiradores do esporte. Pra quem conhece as regras deve ser muito mais divertido.

No fim das contas, inesperadamente o Connacht venceu o Ulster, quando ninguém acreditava na vitória, mesmo que ela não valesse muita coisa pro time de Galway. O que, novamente, me fez sentir em casa e saber que eu estava torcendo pro time certo. Depois disso tudo, ainda dava pra trocar o ingresso por uma Heineken no pub.

Dessa experiência eu tiro algumas conclusões: eu só torço pra times muito perdedores (apesar do Connacht ter vencido essa); torcer xingando é muito mais divertido do que só gritar "Go Connacht!"; e que tudo na Irlanda é desculpa pra beber uma pint no fim das contas.


Montinhoooooooo


sexta-feira, 13 de abril de 2012

A burocracia é a mesma, só muda o endereço.

Tcharaaaam, meu visto! :D
Um dos motivos pelo qual a Irlanda é o destino escolhido pelos brasileiros é a facilidade de se obter o visto. Muitos blogs dão o passo-a-passo detalhado de como resolver essa pendenga. Mesmo assim, algumas coisas acabam saindo diferente do esperado. Como ouvi comentários de que em Galway alguns detalhes são diferentes de Dublin, vou explicar como funcionou pra mim. É um post chatopra caramba, mas pra quem pensa em vir pra cá, pode ser útil.

Bom, assim que se chega na Irlanda, se estiver tudo certinho com os papeis (matrícula na escola, passagem de volta e endereço de onde você pretende ficar), o pessoal da imigração carimba um visto provisório no passaporte. Geralmente é de um mês, mas varia de pessoa pra pessoa e do humor do cara da imigração. Felizmente, o cara acordou de bem com a vida naquele dia. Se você vai pra Galway, pode fazer lá mesmo o visto. Não é necessário ir até Dublin.

No primeiro dia de aula você já pode solicitar para a escola uma carta que comprove sua matrícula e sua residência. No meu caso, o endereço foi da minha Host Family. Em média, se leva de um a dois dias para a cartinha ficar pronta. 

Depois, munido com a carta e com o passaporte, é preciso ir até um banco irlandês abrir uma conta. Geralmente e escola já tem convênio com algum dos bancos e vai te indicar o mais adequado.  No meu caso (Bank of Ireland), foi preciso marcar um horário com a gerente. Não é só chegar chegando. Alguns até conseguem, mas né...  Porque abrir a conta?  Pra depositar aquela quantia báááásica de 3000 euros que eles obrigam você a comprovar que tem para se manter no país. "Se manter" né, porque com a Penney's e o Tesco fazendo uma promoção de diferente todos os dias, é complicado...
Bom, aberta a conta, você pode depositar o valor na boca do caixa ou aguardar a chegada do cartão. O interessante é já depositar o valor o quanto antes e solicitar com o próprio caixa do banco que ele envie pra sua casa o extrato (statement), comprovando que você tem esse dinheiro na conta.  O processo é lento, leva em torno de uma semana pra se receber o cartão, o extrato e todas as papeladas possíveis e imagináveis.  Pra se ter uma ideia de como as coisas são aqui: a moça do caixa anotou num bloquinho pra lembrar de reenviar o meu extrato. Junto disso, eles mandam um livreto super ultra mega explicativo sobre como funciona o banco online ¬¬. Aqui eles ainda são muito atrasados, todo o processo é manual e leva tempo. Ponto pro Brasil, que já é bem mais evoluído tecnologicamente nessa área. Tecnologicamente né, porque na burocraria, é a mesma coisa. 

Voltando ao processo... dinheiro na conta, extrato na mão,  é preciso pegar maaaais uma carta assinada pela escola, mostrando teu nome, data de nascimento e as informações do curso contratado.
Hora de ir pra imigração pra solicitar o visto na GNIB (Garda National Immigration Bureau). O endereço em Galway é: Unit 2, Liosban Industrial Estate, Tuam Road e fica aberto de segunda a quinta das 7:30 às 14h e na sexta das 7:30 às 12:30 (ô vida boa de funcionário público....). E nem adianta ligar pra lá. Eles nunca atendem. E não precisa marcar hora. É só chegar. Se chegar cedinho, melhor. Evita fila e ainda dá tempo de ir caminhando pra escola.

O que você precisa levar:
- passaporte
- carta da escola com teu nome completo, data de nascimento e as informações do curso contratado.
- comprovante de endereço, que pode ser fornecido pelo landlord se você mora em um apartamento, ou pela escola se você está em alojamento estudantil ou host family. Lembre-se: se você está em host family, a pessoa responsável deve assinar esse papel.
- Extrato do banco, com o teu nome e endereço e mostrando o saldo de € 3000
- Comprovante de seguro saúde durante estadia na Irlanda, em inglês. Aqui, muita atenção com alguns detalhes: Se você adquiriu o seguro governamental, ele só serve pra Irlanda (se é que serve pra alguma coisa).  
Se você só adquiriu o seguro saúde internacional, fique atento porque teu visto vai depender da validade desse seguro. Eu tinha entendido que ao adquirir 6 meses de curso + 6 meses de férias o visto por um ano estava garantido. NÃO ESTÁ. Tudo vai depender da validade do teu seguro, sendo o governamental ou o de saúde/viagem.  Outra coisa: esse seguro deve cobrir todas as despesas médicas. Seguro viagem por si só não é aceito.
- Pagar uma taxa de € 150. Aqui outro cuidado: em Galway eles NÃO aceitam dinheiro em cash, só cartão de crédito. Não sei se em Dublin é diferente, mas Galway é assim. A menina que estava comigo teve que voltar outro dia pra fazer o pagamento. Eu, por sorte, estava com o VTM  na carteira. A atendente alegou que eles fazem isso por uma questão de segurança. Não sei se segurança deles para não serem assaltados ou como garantia de que o dinheiro não vai pra outro lugar... sei lá. Incrivelmente, o cartão sai na hora. Ah, detalhe: ouvi boatos de que esse valor vai aumentar, mas não confirmei ainda. Assim que eu descobrir, aviso por aqui.

Acabou? Se tu é estudante e não pensa em trabalhar, sim. Mas se tu quer tentar um emprego de meio turno, que o visto de dá direito nos 6 primeiros meses (nas férias pode ser de 40h semanais) tem que correr atrás do PPS (Personal Public  Service Number), que é tipo um CPF e te dá o direito de trabalhar legalmente. Ele é feito no Department of Social and Family Affairs, que é do ladinho da Biblioteca Municipal, na St. Augustine Street. Os horários de atendimento são: segunda, terça, quarta e sexta-feira das 09h30 às 16h e às quintas das 10h30 às 16h. Ao chegar, é só ir na recepção já com os documentos necessários (comprovante de residência/carta da host family, matrícula, passaporte e o visto) que eles conferem e te dão um formulário pra tu preencher. Retire a senha amarela e espere. Leve um livro, o iPad ou algo pra se distrair porque demora um pouco. No meu caso, foi pouco mais de uma hora. E dessa vez, não precisa pagar nada. Em torno de uma semana você recebe o número em casa.

Depois de toda essa via sacra, você tá totalmente legalizado na Irlanda. \o/

terça-feira, 10 de abril de 2012

Galway Food Festival

Uma das tendinhas mais simpáticas... com azeitonas e castanha do Pará ¬¬.

Hoje faz exatamente um mês que cheguei em Galway.
Parece muito, parece pouco.
Passou rápido. Parece que vivo aqui há quase um ano. Aprendi muito, conheci, acertei, errei.... mas fiz. E tem tanto ainda a ser feito, que com certeza não vai dar tempo de fazer tudo o que se tem vontade.

Enfim... bora falar um pouquinho do que tem sido feito por aqui.
Esse fim de semana de Páscoa, Galway promoveu o primeiro Galway Food Festival. Foi feriado na sexta e na segunda, ou seja: haveria bastante tempo pra mostrar quem e o que é produzido por aqui. A programação, segundo o folder, era bem extensa e com vários atrativos, tipo comida grátis. (E quem me conhece, sabe: falou em comida, tô dentro. Grátis então... já era.)

Porém, o tempo não ajudou e a propaganda foi maior do que efetivamente eu vi. Havia algumas tendas no Spanish Arch, que é um dos pontos turísticos da cidade. Mas os produtos e a oferta estavam no mesmo nível das tendinhas de badulaque da Festa da Uva: pouca variedade (umas 15 tendas), quase nada da cidade e preços acima do que se encontra normalmente. Os pubs e restaurantes também participaram, mas quando entramos em um dos lugares, por exemplo, não tava rolando o que a programação dizia. Além disso, restaurantes com valores beeeeeem longe do que meu cacife de estudante pode pagar. E de graça? Só entrar nas tendas e respirar, porque pra comer...

Por ser a primeira edição, achei bem decepcionante. Talvez pra quem tinha grana pra particiar dos eventos mais badalados, pode ter sido divertido. O que me leva a reconsiderar outras coisas: todos aqui falam com muito orgulho do festival de artes (que será em julho) e do festival de literatura (que será agora em abril). Vou com menos empolgação para esses próximos eventos, porque se for no mesmo estilo do Galway Food Festival, talvez esteja na hora de eu rever meus conceitos.

sábado, 7 de abril de 2012

Conhecendo a Irlanda (1) - Connemara


Quando se está na Irlanda, é impossível não pensar em conhecer outros países, já que tudo é relativamente perto.  Londres, Paris, Amsterdã...  estão sempre entre as opções de cidades mais procuradas. Mas o fato de estar por essas bandas não impede de conhecer o interior do próprio país onde se está. E particularmente, muitas vezes parece até mais interessante.
Sendo assim, parti com destino à região de Connemara, que abrange boa parte do condado de Galway (onde eu estou) e um pedacinho do condado de Mayo. O lugar é conhecido pelo misto de vegetações e paisagens, entre elas o típico interior bucólico e a costa litorânea do oeste irlandês. 
Passamos pelo Aughnanure Castle, que ainda estava fechado pra visitação, mas ao menos rendeu algumas fotos externas. Depois paramos em uma ponte que ficou conhecida por causa do filme Old Quiet Man, com o John Wayne. Cenário bacana, mas na real, não tem nada de muito especial ... é só uma ponte ¬¬.  A parada pro almoço foi na simpática cidade de Clifden, uns 78km de Galway City.

Centro de Clifden
Depois de um típico salmão com batatas, bora perder uns quilinhos no Connemara National Park, que cobre 2.000 hectares de terra, pântano, montanhas e pedras. Ele foi aberto em 1980 e desde então preserva a fauna, flora e história presente no lugar.  Há três opções de caminhadas para os visitantes.  Fizemos o percurso de 3 km, que passa pela base do pico Diamond Hill, assim dava pra ir tranquilo e fazendo umas fotinhos :)

Connemara National Park

Próxima parada: Kylemore Abbey. Esse castelo foi presente de um médico inglês chamado Mitchell Henry para sua esposa Margaret. Sim, o cara não se contentou em dar um presentinho mais simples. Se não bastasse isso, o casal comprou uma área de pântanos próxima para plantar árvores e proteger do vento o jardim murado do castelo. No final das contas, a esposa e uma das filhas morreram e o magnata vendeu o castelo, que virou uma abadia e uma escola de moças. E até hoje é assim. Só é possível visitar uma parte do castelo, mas a entrada é paga. Óbvio que eu sou pobre e não entrei, mas conversando com pessoas que já foram, todas são unânimes em dizer que não vale a pena

Kylemore Abbey
Durante todo o trajeto, se vê placas avisando que estamos em Gaeltachts (que eu comentei no post anterior). Há muitas daquelas típicas casas com telhadinho de sapê, rodeadas por inúmeras ovelhas. As cidadezinhas "maiores" tem sempre o centrinho, com o mercadinho, a igreja, as lojinhas e váááários pubs. Como qualquer cidade do interior em qualquer lugar.

Por final, mas não menos importante, o mosteiro Ross Errilly. Construído em 1351, já foi uma das maiores fundações franciscanas na Irlanda e hoje é a melhor preservada delas.  Os monges teimosos que ali viviam foram expulsos pelo menos umas sete vezes pelos soldados de Cromwell, mas em 1753 abandonaram o local, que se transformou em ruínas e ainda abriga diversos túmulos.


entrada do Ross Errilly
Um pedacinho da fachada
Os passeios pra Connemara são super comuns por aqui. A escola onde eu estudo oferece todos os fins de semana um passeio de ônibus pra quem tiver interesse pelo valor de € 15. As agências de turismo também oferecem valores aproximados. E também há a possibilidade alugar carro – que foi nossa escolha, já que tínhamos uma turma bacana. O aluguel de um carro médio com a gasolina deu € 17 pra cada um. Isso sem dúvida dá mais liberdade, tempo e tranquilidade pra viajar. Quanto a dirigir do lado “errado” da pista não foi um problema pra gente. Eu não me arrisquei, porque né... já não sou boa motorista no lado certo, imagina ao contrário...

Ah... e Feliz Páscoa! :)