domingo, 27 de maio de 2012

Eurotripando por aí (4) - Bruxelas

Grand Place

“Bruxelas?... Hm.. é ok. Não tem muito o que fazer.”

Isso é o que me falavam quando perguntava ou quando eu lia em blogs. Minha opinião: Bullshit. Bruxelas tem o quê fazer sim. Prova disso é o tamanho desse post, que tá gigante. Pra achar algo interessante, basta saber procurar. E se você tiver uma ajudinha, melhor ainda. No meu caso tive duas grandes. A primeira delas eu encontrei assim que cheguei no hostel em Bruxelas.

Brussels is ugly and we love it.

Essa foi a primeira frase do guia que recebi no hostel. O projeto do Use it Europe é criar mapas para jovens viajantes, saindo daquela bolha turística e dando opções pra entrar em contato com a cultura local. São feitos pelos próprios moradores e tentam ajudar a responder questões básicas do tipo “só tenho tempo pra um museu, qual deles devo ir?” ou o clássico “onde faço coisas legais e baratas (ou de graça)?” De forma bem engraçada, eles mostram, além dos pontos turísticos clássicos, algumas coisas bem escondidas que praticamente só quem mora lá sabe que existe. Há outras cidades que possuem esses guias, como Cork, Porto, Praga e até Bruges. Eles são distribuídos gratuitamente apenas em hostels, onde atingem o público alvo e evitam que o lugar se torne mega conhecido pros turistas malas.

Minha outra ajuda veio de Liége. Pra ser mais exata, de São Carlos, em São Paulo. Há uns 10, 12 anos, quando o ICQ ainda era top de linha, eu participava de um grupo de discussão sobre o seriado Friends. Eram mais de 50 pessoas de todas as partes do Brasil. Com algumas delas criei mais afinidade, troquei cartas, telefonemas e sigo em relativo contato até hoje. Uma delas era a Laurinha, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em Bruxelas depois de mais de 10 anos de amizade virtual. Pode parecer estranho, mas ao nos encontrarmos, parecíamos amigas de infância... o que de certa forma somos, mas de uma maneira um tanto peculiar. A Laurinha está terminando o mestrado em Liége e gentilmente topou me encontrar em Bruxelas. Se nada mais der certo na vida dela (o que eu super duvido), tá aprovada pra ser guia local.

Merci, Laurinha! :)

Onde ficar?

Por falta de opções e seguindo indicações do meu amigo Chemello, fiquei 3 noites no 2go4 Hostel. A localização é bem interessante: pertinho da Estação Gare Du Nord (ótimo pra quem vem de Eurolines, que foi meu caso) e também pertinho da Grand Place, onde tudo acontece. Notem que meu “pertinho” não é do lado, ok? Eu gosto de caminhar. 

Fiquei num quarto misto, com 14 pessoas. Super organizadinho, banheiro coletivo super limpinho, não tem do que reclamar da organização. Mas pelo que eu tava pagando, era o mínimo. Achei o preço salgado, já que não tinha café da manhã e todos os outros hostels estavam lotados: € 26. Mas eles têm um espaço bacana pra cozinhar, acessar a internet e confraternizar com outros backpackers.
 
Metrô – o bicho de sete cabeças

Estação Heysel do Atomium. Uma gracinha, já diria a Hebe.

Aqui na “zoropa” eu to sendo colona master, fazendo coisas que nunca tinha feito na vida. Coisas simples como, por exemplo, mandar um postcard e andar de metrô. Sim, eu só tinha andado de Trensurb até hoje, e daí? Então tá... já que é pra andar de metrô, vamos começar pelo difícil e comprar tickets em outra língua. O que, na verdade, não é difícil. Bruxelas facilita a vida de todo mundo que fala inglês, disponibilizando quase todos seus serviços em três línguas: flamengo, francês e inglês. Assim, não foi tão complicado pra pegar meu primeiro metrô. Não me perdi e de quebra ainda treinei pro metrô na França (esse sim, todo em francês...)

Ma onde tu foi, dio cristo?

Vamos começar pelos pontos turísticos básicos. Primeiro deles: o Atomium. Fica bem afastado do centro – 20 minutos de metrô. O troço é tipo uma Torre Eiffel de Bruxelas e representa um átomo (jura?). Foi construído em 1958 para a World Exhibition, quando se acreditava que a energia nuclear salvaria o mundo. Dá pra entrar e visitar, mas pra isso precisa pagar € 11. Do lado tem a Mini Europa. Não fui... porque né, tem o mini-mundo em Gramado... 

Atomium dominando a paisagem

O Grand Place é onde tudo acontece. A praça é toda linda, com construções que parecem aqueles castelos de areia úmida que a gente faz na praia (mas bonitos, óbvio). Infelizmente não deu pra ver todos porque além de ter muitos prédios em reformas, tinha o palco do Festival de Jazz, que tapava toda a fachada do museu. O City Museum conta a história da cidade e também é responsável pelo guarda-roupa do Manneken Pis.

Pedacinho da Grand Place

Manneken Pis é um dos símbolos do país. “É só isso mesmo?” Sim, o menino que mija é realmente uma estatuazinha ridiculamente minúscula, mas um montão de gente fica em torno pra fazer uma foto. O legal é que em alguns dias ele tá vestido com alguma temática diferente e tem desde roupas típicas de países até o jumpsuit (macacão, segundo a Gabe) do Elvis. No dia que eu fui não tinha roupinha nenhuma :( . Ele também tem uma irmãzinha, a Jeanneke, que foi criada por um restaurante pra atrair mais visitantes, só que o restaurante fechou então a coitadinha não mija mais e tá trancafiada num beco.
Ilusão de ótica: Manneken mijando na mulher
A Jeanneken com a maior cara de quem tá com problema urinário.
A Jeanneke pode não tá fazendo xixi, mas em compensação quem passa pelo pub que fica em frente à estátua deve ir muito ao banheiro. Principalmente depois de beber algumas das mais de 2000 cervejas que a Delirium tem. Esse pub já entrou no Guiness Book pelo maior número de tipos de cerveja. Hoje eles já perderam a conta. O lugar é tri bonito, mas é apinhado de gente (turista) - ou seja - bem complicado de achar uma mesinha amiga.
 
Cerveja, aliás, é o que não falta na Bélgica. Provei lá a chamada Kriek, que é uma cerveja feita com um tipo de cereja. Pra mim, mais parecia um experimento de Halls cereja numa Bohemia. Mas gostei do resultado. Também fui no Café Leffe e provei o chopp deles. A Leffe é uma cerveja que eu já gostava muito no Brasil. Mas tomar em uma mesinha do bar da Leffe, num fim de tarde, com ótima companhia e petisquinhos com formatinhos felizes, não tem preço.

Dando uma de phyna (ou seria Ray Charles?) No Cafe Laffe
Na minha listinha de experimentar coisas típicas, inclusive, faltou alguma cerveja Gueuze e alguma das Trapistas.. mas eu já tinha tomado Chimay no Brasil, então ok. Ah, aqui na Bélgica é impossível sair sem provar um Waffle ou as batatas fritas em cone. Façam uma favor pra vocês mesmos e provem as batatas com molho andaluz!

Chega de gordice, vamos pras artes
Pros amantes da arte e cultura, Bruxelas é prato cheio. Primeiro que eu entrei na loja da Taschen. Quase morri. Sabe aqueles livros carésimos que tu vê na Saraiva, com fotos maravilhosas? Pode apostar, é Taschen, que é uma editora que só publica coisas sobre arte, fotografia, moda e cinema.

Teve um museu que eu queria conhecer, mas acabei não indo que é o Museu dos Instrumentos Musicais.  O prédio por si só é uma graça: todo em estilo Art Noveau, tem a maior coleção de instrumentos do mundo. E a vista daquela região é muito bonita. Falando em Art Noveau, tem uma área na região leste em que todos os prédios têm suas fachadas nesse estilo. Um mais fofo que o outro, principalmente próximo a Ambiorix Square.

Museu dos Instrumentos Musicais
Praças e parques também são ponto forte na cidade. São enormes, lindos e num sábado de sol ficam lotados. Entre eles, indico o Leopold Park – que era um zoológico até 1876, quando todos os animais morreram; Parc Du Cinquantenaire, que é gigante e no dia em que passei por lá tava rolando uma maratona. Outro clássico é o Royal Park, onde também está o Palácio Real.

Parc Du Cinquantenaire cheio de maratonistas

Outro lugar pra visitar, que eu não fui por falta de tempo, mas também por medinho de ser caça-níquel é o museu das histórias em quadrinhos. O que me faz lembrar que a Bélgica é também berço de um dos personagens favoritos da minha pré-adolescência, o TinTin e seu fiel escudeiro Milu. Próximo ao Manneken Pis, tem uma loja temática dele que é de cair o os butiá do bolso (e também os euros, porque tudo lá é mega caro). Mas dá vontade de levar tudo. 

Tintin e Milu :D
Voltando às artes, o Royal Museum of Fine Arts me fez entender finalmente aquelas cenas que a gente vê em filmes, das pessoas sentadas em frente às telas, observando. Sempre achei isso coisa de pseudo-cult que acha que entende alguma coisa de arte. Mas depois de me deparar com uma obra do Gustave Wappers, eu vi que podia ficar ali por muito tempo, admirando todos os detalhes (e isso soou muito pseudo-cult).
Royal Museum bem lindão

O quadro: Episode of the September Days 1830 (on the Grand Place of Brussels)

Por último, mas importante, visitamos um lugar que eu fiquei apaixonada, a Cinematek. Eles têm um baita arquivo sobre a história do cinema mundial, além de um espaço/museu contando e demonstrando a evolução do cinema, com direito à cinematógrafo e tudo. Sério, parece imbecil, mas é emocionante ver de verdade as coisas que eu tanto mencionei na minha monografia. Aquele lugar seria o sonho de realização físico do meu trabalho final de curso e naquele momento cheguei a sentir saudades de tudo.. vontadezinha de estudar tudo de novo... Ok, passou a vontade.

Se não bastasse todo o acervo, por meros 3 euros tu assiste a uma sessão de cinema à moda antiga, para poucas pessoas, em cadeiras mega confortáveis, algum clássico do cinema mudo, ao som de... um piano ao vivo. Sim!!! Durante pouco mais de uma hora, a pianista faz toda a trilha sonora na escuridão, sem usar nenhuma partitura, seguindo o ritmo do filme. O filme que assisti era The Son of the Sheik, de 1926 com o Rudolph Valentino e fazia parte do ciclo “Latin Lovers” (uuui). Demais, demais, demais.

Às 10 da noite ainda deu tempo de apreciarmos o pôr do sol, fechando com chave de ouro a passagem por Bruxelas. Mas gente, tem muito mais! Não falei do Parlamento Europeu, do Palais de Justice e de tantas outras coisas pra ver. Sabe, não sei se é porque ouvi tanta gente falando mal de Bruxelas que acabei criando esse desafio, de tentar fazer ela o mais interessante possível. Mas pelo menos pra mim, funcionou. E espero que esse post (apesar de gigante) funcione pra vocês também.
  

12 comentários:

  1. meeeu, fiquei com agua na boca pela descrição da cerveja de cereja!! tu acha q eu iria gostar???
    pareceu mto boa! hahaha

    ResponderExcluir
  2. Ficou muito legal o post, Marcelle! E por causa dele (e do outro sobre a Bélgica) estou pensando seriamente em dar um rolê por lá também nem que apenas de alguns dias antes de voltar para o Brasil. Valeu pelas dicas!

    ResponderExcluir
  3. Que maravilha, Marcelle. Comentários do tipo "não tem o que fazer lá" geralmente vem de quem só procura os passeios tradicionais ou tem preguiça de cavar as grandes preciosidades e particularidades de cada local. Se precisar de ajuda sobre Paris e arredores franceses, me dá um toque, é a única coisa em que posso ajudar com minha experiência europeia limitada. Bjos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Bruno! Brigadão! Próximo post é de Paris... mas é impossível falar sobre tudo aquilo. É demais prum post só! Hehe. Bjos

      Excluir
  4. Celli querida! Ótimo post quase me vi sentadinha naquele Pub contigo tomando uma cervejinha e também fazendo pose de Ray Charles!!!!!!!!

    ResponderExcluir
  5. E viva a terra dos monges cegos fazedores de cerveja!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu tinha que citar os monges .. não cegos, por que né.. nem todos devem ser cegos.

      Excluir
  6. Muito legal Celli! Me diverti bastante! Valeu a pena esperar pra finalmente nos encontrarmos em Bruxelas!! :) Beijao!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tb curti muito, Lau!!! Super encontro internacional!! Beijão!!!

      Excluir