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Brincos arrecadados. Óbvio que não é cristal, mas né... de graça até injeção na testa. |
O fato de morar em um flat com pessoas das mais diferentes
nacionalidades, costumes e hábitos era uma experiência pela qual eu queria
muito passar. Pois bem, já faz quatro meses e meio que moro em um flat pertinho da
escola e divido com outras três pessoas: um coreano, uma mexicana e há um mês
com um brasileiro.
No início, torci um pouco o nariz pra isso, porque né... morando
com brasileiro é inevitável falar português, não estamos aqui pra isso e blá
blá blá. Mas devo dizer que tá sendo ótimo morar com alguém que entende o
quanto o conceito de limpeza é importante e que casca de ovo é lixo orgânico e
não reciclável. Sem contar que o Matheus é menino prendado, fez uma geral na
cozinha e no banheiro partilhado (que não é meu caso) e até tá aprendendo a cozinhar. Às vezes é bom levar em consideração
o lance da convivência e não só o do idioma.
Mas enfim, estávamos ontem em uma dessas maratonas de
limpeza, quando resolvemos dar uma geral no armário da sala, que eu confesso,
nem chego perto. Achamos a chave a abrimos as portinhas
empoeiradas. É incrível a quantidade de coisas que se podem encontrar em uma
dessas aventuras. Eram dezenas de cartas datadas de 2001 (!!), cartões de natal
com fotos de bebês, panfletos falando sobre a fome no Afeganistão, canetas Bic
(muitas canetas, eu diria) e badulaques em geral. Conseguimos arrecadar várias
coisas. Eu por exemplo, catei um par de brincos novinho em folha e uma pulseira, sem
contar outras várias bugigangas.
E pelo que conversei com alguns amigos hoje, isso não é fato
isolado. Hoje ouvi que uma menina, nessas limpezas dentro de casa, achou até uma caixa de charutos cubanos! Pra nós brasileiros, em geral, as casas aqui são uma bagunça. A fama dos
irish não é nada boa quando se fala de limpeza. É um dos grandes problemas ao
tentar encontrar um apartamento aqui: muitos reclamam da sujeira e dos entulhos
espalhados. E pensa: são anos de coisas acumuladas (tipo, 2001?? Ninguém abria
o nosso armário há mais de 10 anos??? WTF!”). Ninguém dá bola porque o apartamento
é alugado, portanto não é teu, sendo assim ninguém se importa com o que tem ou
deixa de ter no lugar. O que eu acho uma tremenda bobagem, mas né... ‘cadum
cadum’.
Dividir apartamentos aqui é prática mais que comum e isso
não é restrito a estudantes solteiros. Muitos casais e até famílias dividem as
casas com outras pessoas, tudo numa boa. Numa “boa” né, porque morar junto já é complicado
entre família, imagina com estranhos. Então não há aquela coisa que eu sempre achei
o normal: quando jovem, deve ser legal dividir apartamento, mas depois de
formada e estabilizada, irei comprar um apartamento pra mim ou dividir com
meu namorado. Não. Isso não funciona assim aqui em Galway. Até porque, é uma cidade
universitária e turística, ou seja, tem uma rotatividade muito grande pessoas. A
principal fonte de procura é o site daft.ie, mas na escola também é muito comum
encontrar estudantes deixando o apê e
procurando alguém pra substituir.
Eu tive sorte. Muita sorte, eu diria. Achei de cara um
apartamento bem localizado, por um preço bem acessível, quarto com cama de
casal e banheiro, além de flatmates relativamente tranquilos. Mas as histórias
que a gente ouve aqui são aterrorizantes, desde flatmates psicopatas que criam
lagartos até malucos que invadem quartos pra fazer xixi no carpete. Longas
histórias.
Anyway, realizei meu desejo de morar com outras pessoas.
Tô aprendendo muita coisa (boa e ruim), aprendendo a lidar com diferenças, problemas
e cobranças, além de estar curtindo muito essa vida “adulta” de ter que fazer minhas
compras, lavar minha roupa e até limpar o meu banheiro. Mesmo assim, podem me
chamar de individualista capitalista do caramba, mas eu já to louquinha pra ter
o meu cantinho assim que eu voltar.